Descobertas raras ajudam a entender como era templo romano de 2.000 anos

Cupra Marittima, na região de Marche, na Itália, é hoje uma pacata cidade litorânea, mas já foi um próspero e poderoso posto avançado do Império Romano.

Perto das praias imaculadas da costa do Mar Adriático encontram-se as ruínas do antigo templo de Cupra, onde uma nova descoberta veio à tona. Na semana passada, arqueólogos recuperaram partes das paredes e teto com afrescos do templo de 2.000 anos, pintados em tons de azul, amarelo, vermelho, preto e verde e decorados com guirlandas floridas, imagens de candelabros e pequenas palmeiras.

Encontrar antigos templos romanos com os interiores “ainda cobertos de pinturas” é “extremamente raro”, disse o arqueólogo Marco Giglio, coordenador do projeto de pesquisa do sítio e professor da Universidade de Nápoles L’Orientale.

“É a primeira vez que as ruínas de um santuário pintado com uma paleta de cores tão ampla em um estado incrivelmente bem preservado – e com decorações tão ricas e elaboradas – são desenterradas”, afirmou ele em entrevista por telefone, acrescentando: “Depois que nós limparmos e analisarmos todos os 100 fragmentos encontrados e juntá-los, esperamos que nos dê uma imagem completa de como era o templo”.

Giglio espera que a descoberta lance uma nova luz sobre as técnicas de engenharia usadas pelos romanos. Estudar os motivos decorativos recorrentes das paredes também pode ajudar os pesquisadores a entender melhor a economia local da cidade.

Estilo de pintura incomum

O templo de Cupra, construído no início do século 1 d.C., foi o centro espiritual de uma cidade estratégica e comercialmente importante que ajudou os romanos a controlar a costa do Adriático e suas rotas comerciais marítimas.

A escavação começou em julho e está sendo liderada pela Universidade de Nápoles L’Oriental e pela Câmara Municipal de Cupra Marittima, que supervisiona o parque arqueológico onde estão situadas as ruínas da cidade velha.

Excepcionalmente, as pinturas das paredes recém-descobertas parecem ter sido criadas no chamado estilo da Terceira Pompeia (ou “ornamental”) normalmente usado para decorar famílias ricas em Pompeia e Roma, em vez de estruturas religiosas, segundo Giglio.

“Recuperar pinturas de parede antigas intactas como estas é muito raro. A pintura é difícil de preservar ao longo do tempo devido à umidade, e também é muito difícil desenterrar corretamente durante uma escavação”, disse Ilaria Benetti, arqueóloga da Superintendência de Arqueologia, Belas Artes e Paisagem das províncias de Pisa e Livorno, em entrevista por telefone.

“O incrível estado de preservação e integridade das partes com afrescos, e a paleta de cores extremamente rica usada – particularmente o azul-celeste brilhante e o vermelho-rosado – destacam-se como bastante excepcionais quando comparados à tinta vermelha tradicional normalmente usada nos tempos antigos, sugerindo que era um santuário luxuoso”, acrescentou Benetti, que é especialista em afrescos, mas não esteve diretamente envolvida na escavação.

Embora o templo compartilhe um nome com Cupra, uma deusa etrusca posteriormente incorporada à religião romana, os arqueólogos ainda não determinaram qual culto estava associado ao santuário. Uma grande estátua de uma deusa provavelmente foi mantida na parte principal para os adoradores, disse Giglio.

Com o tempo, a maior parte do templo foi destruída, embora o pódio e uma escadaria que leva à entrada tenham sobrevivido. O resto do santuário foi reduzido a uma pilha de fragmentos a um metro abaixo do solo, onde os arqueólogos começaram a escavar no início do verão europeu.

O templo passou por várias mudanças radicais após sua fundação, tornando mais difícil para a equipe de Gilgio imaginar como era originalmente. Em 127 d.C., o imperador romano Adriano financiou uma reforma completa do santuário, pois ele temia que o local pudesse desmoronar devido a danos estruturais causados pelo tempo ou desastres naturais.

Para reforçar a estrutura, acredita-se que Adriano tenha esculpido as paredes pintadas e as coberto de mármore. Esse processo pulverizou as seções coloridas originais, mas depois foram usadas como base para os novos pisos.

De acordo com Giglio, a obra-prima pagã de Adriano foi posteriormente esmagada em pedaços a partir do século 7. Os mármores e colunas foram derrubados para serem usados como materiais de construção, enquanto no fim do século 19 as paredes do templo foram demolidas para dar lugar a uma casa rural abandonada que ainda paira sobre as ruínas do santuário.

Fonte: CNN.

Imagem: Marco Giglio / Università di Napoli L’Orientale.