Ecoturismo responsável como ferramenta de conservação ambiental em biomas brasileiros

Fazer um safári, observar baleias ou conhecer um templo de tigres fazem parte de uma atividade que tem atraído cada vez mais adeptos do contato com a natureza selvagem: o ecoturismo. O termo tem despertado interesse crescente ao redor do mundo, passando desde alegações de que o turismo ajuda a conservar grandes felinos a acusações que o associam ao tráfico de vida selvagem.

Procurando saber se o ecoturismo é bom ou ruim para espécies ameaçadas, uma equipe de pesquisadores da Universidade Griffith, na Austrália, foi atrás de respostas. E descobriu, em pesquisa publicada em 2016 no periódico científico PLOS ONE, analisando nove espécies diferentes, que, no geral, o ecoturismo é bom para a vida selvagem.

A arara-militar-grande (Ara ambiguus) na Costa Rica; o abutre-do-egipto (Neophron percnopterus) na Espanha; o gibão-hoolock-ocidental (Hoolock hooloock) na Índia; o pinguim africano (Spheniscus demersus), o mabeco (Lycaon pictus), o guepardo (Acinonyx jubatus) na África: todos se beneficiaram do turismo, conforme o estudo.

Mas onde está o Brasil, com sua rica e ameaçada fauna, nessa história? Foi com o intuito de colocar o Brasil na rota do ecoturismo, unindo interesse turístico a conservação ambiental, que surgiu o Onçafari: uma associação que procura preservar a biodiversidade em diferentes biomas brasileiros por meio do desenvolvimento socioeconômico, do conhecimento científico e da reintrodução de onças-pintadas na natureza.

“Para nós, o trabalho de reabilitação e reintrodução de onças-pintadas na natureza, por exemplo, pode ser a chave para salvar populações de onças criticamente ameaçadas, como as da Mata Atlântica. Nós conseguimos pela primeira vez na história reintroduzir com sucesso um grande felino na natureza: um sucesso comprovado com a confirmação do nascimento de filhotes dessas onças na natureza” celebra Mario Haberfeld, fundador e idealizador do Onçafari.

Haberfeld é ex-piloto de Fórmula 1 e diz que sempre teve o sonho de trazer ao Brasil a realidade de safáris como alguns que viu na África: voltados 100% para preservação, sustentabilidade e conservação da vida selvagem. Diferentemente da oferta de safáris que pressupunham experiências apressadas, massivas, em veículos enormes para mais de 20 turistas, em parques que sofriam seriamente os efeitos do turismo excessivo, a proposta, desde sua concepção, foi outra.

“Desde o começo, quisemos coletar dados e compilar informações que nos levassem ao melhor entendimento do comportamento das onças-pintadas, assim como a descoberta de melhores estratégias para a conservação desse que é o maior felino das Américas, e um dos símbolos do Brasil. Por isso, pensamos em formas de consolidar o ecoturismo como ferramenta para conservação, e não como exploração”, define ele.

O Onçafari teve início em agosto de 2011, no Refúgio Ecológico Caiman – um conhecido refúgio ecológico de 53 mil hectares na imensidão do Pantanal. Em outubro daquele ano, nasceu Natureza, primeira filhote de Esperança, onça monitorada desde o início da criação do Onçafari, cuja habituação tem sido passada por gerações, permitindo que a associação acompanhe a história de sua família.

“Trabalhamos para habituar os animais à presença de veículos e, consequentemente, facilitar o desenvolvimento do turismo na região. Uma vez habituadas, é possível que turistas vejam onças-pintadas e lobos-guarás de pertinho, atraindo os amantes dos bichos e promovendo a conservação das espécies”, destaca Haberfeld.

Atualmente, a atuação do Onçafari abrange os biomas Pantanal, Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Em cada um desses biomas, há diferentes frentes, com abordagens distintas, adaptadas a cada realidade. As maiores bases de ecoturismo estão no Pantanal e no Cerrado. Por meio da renda gerada pela visitação, conforme o fundador e idealizador do projeto, os moradores e proprietários de terras passam a valorizar mais as espécies nativas.

“Com o desenvolvimento do ecoturismo, desenvolvemos também toda uma comunidade. Mais turistas significa mais renda para as comunidades locais, mais oportunidades de trabalho e maiores opções de carreira”, defende Mario Haberfeld.

Para ele, um dos maiores motivos de orgulho da iniciativa é a consolidação do Onçafari Reintrodução: em parceria com o Centro Nacional de Pesquisas e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Foi criado um espaço para pesquisas e reabilitação e reintrodução de onças-pintadas e outros mamíferos de pequeno, médio e grande porte na natureza. Conforme Haberfeld, ali foi registrado o caso da primeira reintrodução de onças-pintadas bem-sucedida do mundo, das irmãs Isa e Fera.

“Elas perderam a mãe quando ainda eram muito filhotes. Depois de uma cuidadosa adaptação, que durou quase um ano, foram reintroduzidas no Pantanal, em 2016. Em 2018, tivemos a prova do sucesso do projeto, com o nascimento de seus filhotes. E hoje vemos que elas procriam, caçam e marcaram seu território, influenciando positivamente na recuperação de uma população ameaçada de extinção”, comemora ele.

Fonte: Um só Planeta.

Foto: Gustavo Figueirôa / Onçafari.