Caso as outorgas já concedidas para que projetos de energia solar e eólica sejam implementadas, as energias renováveis podem criar dois milhões de empregos, pelo menos, no Nordeste, nos próximos anos. É mais do que o dobro dos empregos existentes hoje no Brasil nesses setores. O número pode crescer com mais investimentos em eólica offshore, mobilidade elétrica e hidrogênio verde.
O dado foi divulgado na segunda-feira, no lançamento do Plano Nordeste Potência. A iniciativa busca promover o desenvolvimento limpo e inclusivo para a região. Foi feito pelo Centro Brasil no Clima, Fundo Casa Socioambiental, Grupo Ambientalista da Bahia e Instituto Climainfo, com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS). A intenção é debater caminhos para a recuperação econômica do Nordeste no pós-pandemia.
Nas contas de Aurélio Souza, conselheiro do Instituto Climainfo e um dos autores do estudo técnico que deu base ao plano, há hoje na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) outorga para 60 GW de energia de fontes renováveis, mas apenas um terço desse total se transformou em projetos. “Existem quase 30 GW de projetos solares que irão sair no Nordeste”, disse, lembrando que na pandemia o setor foi um dos poucos que não só não sentiu a crise como cresceu.
Os 66 GW outorgados para o Nordeste em projetos de energia renovável significam quase cinco Itaipus de potência.
O plano tem cinco eixos principais – gestão pública, capacitação de mão de obra, participação da sociedade, geração distribuída de energia e revitalização da bacia do rio São Francisco. “O Nordeste tem tudo o que a economia verde do século 21 pede: Sol., vento, criatividade, paraça de trabalho e proximidade de mercados nacionais e internacionais”, diz o texto que apresenta a iniciativa.
“Este plano vai de encontro ao que acreditamos e seus eixos reforçam o que queremos continuar fazendo”, disse o governador Paulo Câmara (PSB) e que preside o Consórcio Nordeste, que agrupa os nove Estados da região. “O desenvolvimento não pode esquecer das questões sociais, além de ter um outro olhar, que é para a proteção ambiental”, disse Câmara.
O Plano Nordeste Potência procura trabalhar sobre três diretrizes – mais água, mais emprego e mais energia para o país.
O texto que lança a iniciativa diz que a revitalização da bacia do rio São Francisco é crucial, não só para abastecer a região de água, mas para funcionar como uma “bateria” de outras fontes renováveis para a próxima década. Fechando o ciclo, com mais energia solar e eólica sendo produzida, mais estocagem de água na bacia será permitida em período de menos chuvas, destaca o plano.
Aumentando a produção de energias renováveis, haverá benefícios na bacia do São Francisco para abastecimento, irrigação, turismo e navegação, além dos serviços ambientais. É a chance de reverter o quadro atual. Em 30 anos, 50% da superfície da água do rio São Francisco desapareceu. Para isso, calcula-se que 3,3 milhões de hectares precisam ser recuperados em reservas legais e Áreas de Proteção Permanente (APPs) na bacia.
Entre as recomendações está garantir a participação das comunidades afetadas no licenciamento ambiental e criar políticas de fomento à cadeia de valor da indústria solar. Estimular eficiência energética, eletrificar o transporte e estimular a educação ambiental são outros pontos.
Fonte: Valor Econômico