O avião é o meio de transporte mais seguro que existe. E, acredite, o mesmo pode ser dito em relação às usinas nucleares. Embora permaneçam na memória acidentes como os de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986; e em Fukushima, no Japão, em 2011, ocorrências como essas são raras.
E até quem sempre criticou a energia nuclear se convenceu. “A energia nuclear é a mais segura de todas as tecnologias de eletricidade que temos”, afirmou recentemente ao canal de TV estadunidense News Nation ninguém menos que Patrick Moore, um dos fundadores do Greenpeace. Durante muito tempo, a ONG teve a energia nuclear entre seus maiores alvos de críticas.
De grande vilã dos ambientalistas, hoje a geração de energia elétrica via usinas nucleares tem sido cada vez mais aceita por especialistas e defensores das chamadas “energias verdes”. A história do mundo contemporâneo se divide em antes e depois da descoberta da fissão nuclear. E a mesma reação que está por trás de uma bomba de alto poder destrutivo pode também ser utilizada, de forma controlada, para a geração de energia elétrica.
No final de junho, a IEA (sigla em inglês para Agência Internacional de Energia) afirmou oficialmente que o mundo precisa dobrar sua capacidade de geração de energia nuclear até 2050 para atingir as metas de frear o aquecimento global e manter em 1,5 ºC a crescente elevação da temperatura do planeta.
Os efeitos das mudanças climáticas se devem, em grande parte, ao uso de combustíveis fósseis, como o petróleo e seus derivados. E ainda que essa relação direta seja debatida, com avanços na produção dos carros elétricos e híbridos, há um clamor nos países ricos por uma energia que seja mais “verde”. Gigantes da indústria multinacional têm se adaptado a esse novo modo e exemplos não faltam.
Por que apostar
Algumas autoridades no assunto defendem que, se quisermos levar a sério a segurança na geração de energia e a preservação do meio ambiente, devemos necessariamente considerar a energia nuclear.
É o que pensa, por exemplo, o professor de engenharia nuclear Jacopo Buongiorno, do prestigiado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Segundo ele, para que o tema seja recolocado em pauta, é preciso que haja redução de custos na implantação de novas usinas e modernização das que já existem. Afinal, a energia nuclear é uma das formas mais baratas disponíveis em relação a custo e eficiência de geração.
Atualmente, porém, há muitos atrasos e empecilhos burocráticos impedindo maior dinamismo na implementação dessas usinas e investimentos da iniciativa privada. A França, por exemplo, gera 80% de sua eletricidade a partir das usinas nucleares; já os Estados Unidos produzem apenas 20%.
Ao todo, 44 novas usinas estão em construção em diversos países. Entre eles o Brasil, com a retomada das obras da usina de Angra 3, em Angra dos Reis (RJ). Nosso imenso potencial hidrelétrico levou o país durante décadas a desconsiderar a importância de se investir em energia nuclear.
Vale lembrar que usinas hidrelétricas não são formas “verdes” de geração de energia. Há um impacto ambiental enorme, primeiro com barragens e alagamentos de grandes áreas de florestas. Depois, todo material orgânico que ficou submerso apodrece e gera enorme emissão de gases de efeito estufa. Isso sem contar o custo altíssimo das construções.
Do ponto de vista ambiental, a energia nuclear é imbatível. Sem expelir gases poluentes, não libera nada na atmosfera — nem dióxido de carbono (CO2), nem enxofre, nem mercúrio.
Também precisa de pouco espaço. Uma usina de reator duplo que ocupa cerca de 400 mil metros quadrados tem capacidade de abastecer 2 milhões de residências. É o caso, por exemplo, de Angra 1 e Angra 2, que juntas podem fornecer energia elétrica para mais de 3 milhões de residências.
E o lixo nuclear?
Uma preocupação, por outro lado, é com o resíduo gerado pelas usinas nucleares. Conhecido como lixo nuclear, trata-se de um subproduto das reações de fissão nos reatores, e que é altamente radioativo.
Técnicas modernas permitem remover o combustível em segurança e reprocessá-lo para produzir mais. Isso tem reduzido drasticamente a quantidade de lixo que precisaria ser armazenada.
Gostamos de exemplificar isso, afirmando que se uma pessoa usasse energia nuclear durante toda sua vida, o lixo resultante seria suficiente apenas para encher uma latinha de Coca-Cola! Agora compare isso com as milhares de toneladas de plástico e outros resíduos que descartamos todos os dias.
Fonte: Galileu, Ambiente Brasil.