Estudo revela campanha nos EUA que gerou desinformação climática no mundo

Ao espalhar desinformação sobre as mudanças climáticas, a organização Global Climate Coalition (GCC) não só mudou o curso da política climática dos Estados Unidos nas últimas décadas do século 20 como também influenciou o mundo todo. Essa perigosa campanha foi detalhada em estudo publicado nesta segunda-feira (11) na revista Environmental Politics.

Segundo a pesquisa, a GCC organizou os primeiros esforços mundiais para frear o combate ao aquecimento global, criando táticas que servem de guia para a desinformação climática até hoje. Criada em 1989 e encerrada em 2001, ela foi a primeira e a maior entidade nos Estados Unidos com função de se opor às ações climáticas.

O estudo foi realizado por Robert Brulle, professor visitante da Brown University, em Rhode Island. O pesquisador hierarquizou as técnicas da GCC em quatro tópicos: o monitoramento e contestação da ciência climática; a encomenda de estudos econômicos sob medida para ampliar e legitimar seus argumentos; a mudança da compreensão cultural sobre o assunto com campanhas publicitárias; e a condução de um lobby agressivo sobre os legisladores e outros membros das elites políticas.

De acordo com o Instituto ClimaInfo, originalmente participavam da entidade empresas de serviços públicos, como água e eletricidade, representantes do setor de carvão e uma companhia petrolífera. No ano de 1991, o grupo alcançou um total de 79 membros.

O que Brulle fez foi ir atrás de documentos previamente ocultos sobre o trabalho da GCC. O professor coletou arquivos de 1990 a 1998 da Associação Nacional de Fabricantes dos EUA e da agência de comunicação E. Bruce Harrison Inc.. Os documentos revelaram a estratégia inicial da entidade, isto é, lançar dúvidas sobre as ciências climáticas, ressaltando supostos danos econômicos causados pelo combate à crise do clima.

Os documentos também detalham uma tentativa da GCC de pressionar a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), mostrando que a organização se vangloriava também por ter influenciado negociações ambientais importantes, como a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC), cujo objetivo é estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa.

Além disso, Brulle averiguou um arquivo de 1995, que resume esforços da GCC para mudar a política climática internacional, listando os principais doadores industriais da coalizão, assim como o seu orçamento.

“As ações empreendidas pela Global Climate Coalition nos primeiros dias da política climática provaram ser incrivelmente eficazes em atrasar as ações climáticas por décadas”, afirma o pesquisador, em comunicado. “Estes documentos revelam um livro de jogadas para o enorme e eficaz esforço de relações públicas que a indústria ainda emprega hoje”, avalia.

De acordo, com outros levantamentos dezesseis das empresas mais poluentes do mundo pagaram por cerca de 1.700 anúncios de desinformação climática no Facebook que, juntos, receberam até 150 milhões de impressões. Desse total, três quartos foram obtidos por anúncios pagos pela ExxonMobil, que investiu em 2021 até agora cerca de US$ 4 milhões em anúncios de desinformação climática no Facebook.

Os dados, divulgados nos primeiros dias da COP-26, foram compilados pelo Eco-Bot.Net – um sistema alimentado por inteligência artificial para recuperar anúncios das APIs do Facebook e os dados ocultos de segmentação e impressões que são anexados a cada um.

Desinformação no Brasil

YouTube ganha dinheiro e desobedece às próprias regras com negacionismo climático. Dentre os responsáveis pelas fake news climáticas, destacam-se bolsonaristas e ruralistas, como revela uma investigação inédita da Agência Pública.

A reportagem simulou uma busca na plataforma por meio da ferramenta YouTube Data Tools e obteve dados diretamente do algoritmo de recomendação da rede. Dos 121 vídeos analisados, 37 apresentaram informações que contradizem o consenso científico sobre as mudanças climáticas potencializadas pela ação humana, o que representa 30,5% da amostra. Destes, ao menos 15 vídeos são monetizados, ou seja, geram dinheiro para seus publicadores e para o YouTube por meio da disseminação de mentiras sobre o clima.

Boa parte do conteúdo que nega a existência do aquecimento global é respaldado pelos argumentos de dois cientistas, Ricardo Felício e Luiz Carlos Molion, que aparecem em 70% dos vídeos negacionistas da amostra. Os dois pesquisadores que contradizem a ciência já foram financiados pelo agronegócio brasileiro.

Fontes: Galileu, Ambiente Brasil, Notícia Sustentável, Carta Capital