Dois flagelos da saúde pública e ambiental do século 20 – microplásticos e resistência antimicrobiana – parecem estar se unindo para gerar uma preocupação nova, informa reportagem da Hakai Magazine.
Cientistas já haviam descoberto como o plástico cria habitat e um sistema de transporte útil para micróbios marinhos, incluindo patógenos humanos potencialmente prejudiciais. Agora, pesquisadores liderados por Sasha Tetu, microbiologista da Universidade Macquarie, na Austrália, mostraram que os produtos químicos lixiviados da poluição microplástica marinha podem alterar a composição das comunidades microbianas, tornando-as mais virulentas e aumentando a prevalência de resistência antimicrobiana.
A equipe misturou amostras de água do mar com os lixiviados do cloreto de polivinila (PVC) e analisaram como o DNA das bactérias que vivem na água mudou ao longo de seis dias. O PVC é um dos plásticos mais comuns e, como muitos outros plásticos, libera aditivos como metais, corantes e estabilizadores – compostos adicionados para melhorar o desempenho do plástico.
Os cientistas não sabem exatamente como ou por quê, mas as bactérias misturadas com plástico carregam cada vez mais genes relacionados à maior virulência e resistência antimicrobiana. Os pesquisadores descobriram que o efeito é mais complexo do que um aumento geral na resistência a todos os antimicrobianos. Em vez disso, as bactérias mostraram uma maior abundância de genes que oferecem resistência a algumas classes de antimicrobianos e uma diminuição da prevalência de genes que as protegem de outros grupos de antibióticos.
Da mesma forma, a prevalência de genes que codificam certos tipos de virulência, como mecanismos para suprimir a resposta imune de um hospedeiro, aumentou significativamente, enquanto aqueles ligados a outras atividades nocivas diminuíram. Muitos dos genes de resistência antimicrobiana foram identificados em bactérias que não são conhecidas como patógenos humanos, mas isso não significa que não representem um risco para a saúde humana, porque “os micróbios têm muitas maneiras diferentes de compartilhar genes, muitas vezes em linhagens distantes”, explica Tetu.
Emily Stevenson, estudante de pós-graduação da Universidade de Exeter, na Inglaterra, estuda como os microplásticos afetam a propagação de bactérias resistentes a antimicrobianos. Ela diz que esta nova pesquisa aborda questões importantes sobre como a exposição ao plástico altera as comunidades microbianas. Quão bem as descobertas de laboratório se traduzem em condições do mundo real é difícil saber, mas Stevenson diz que é preocupante.
“O que me preocupa particularmente”, diz ela, “é onde esses lixiviados são antimicrobianos”. Muitos plásticos são impregnados com antimicrobianos conhecidos, como o triclosan. “Se isso estiver biodisponível para os insetos, isso adicionaria uma pressão seletiva, então é provável que eles desenvolvam resistência antimicrobiana”, acrescenta ela.
Fonte: Um Só Planeta.
Foto: Pixabay.