Gilbués é uma cidade que fica ao sul de Teresina, capital do Piauí, e que há décadas sofre com a desertificação. Embora o processo seja natural, no município, ele foi agravado pelo aquecimento global, que gerou fortes secas, e também pela ação humana. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), atualmente são mais de 7,8 mil km² de área desertificada — região que equivale a cinco São Paulo (1,5 mil km²) e oito Nova Iorque (783,8 km²).
Com pouco mais de 10 mil habitantes (dados do Censo Demográfico 2022 do IBGE), o município tem como principal atividade econômica hoje a agricultura. Uma pesquisa publicada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 2021 indica que a desertificação de Gilbués começou entre as décadas de 1940 e 1950, e foi impulsionada principalmente por práticas nocivas da agropecuária e da mineração.
Além do fator humano, naturalmente chove muito pouco em Gilbués, e o município passa boa parte do ano em período de seca. Para piorar a situação, a expectativa de especialistas é de que esse cenário se agrave: um relatório de 2021 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas apontou que, para os próximos anos, deve ocorrer a redução de 10% a 20% nas chuvas na região.
Outra preocupação para o município é o aquecimento global, que pode aumentar a velocidade da desertificação. Segundo o estudo do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, espera-se que a temperatura da cidade suba em até 2,5 ºC.
O que é desertificação do solo?
A desertificação é um processo que acontece principalmente em regiões de clima árido, semi-árido ou sub-úmido seco, e que resulta na perda total ou parcial da fertilidade e da atividade biológica do solo. Existem várias causas para o início dessa transformação de um lugar em deserto, inclusive a ação humana e as próprias condições climáticas do local.
Segundo pesquisadores, são necessários novos estudos para identificar o papel do aquecimento global na aceleração do processo. Os agricultores dizem que a região está mais seca e que a estação chuvosa está mais curta e intensa, o que agrava o problema. Fortes precipitações lavam mais solo, aprofundando os cânions abertos conhecidos como “vocorocas”.
Para tentar minimizar os impactos, produtores locais estão adotando medidas de proteção da vegetação nativa, irrigação por gotejamento, piscicultura e a antiga técnica antierosiva da agricultura de terraço. Mas condenam o fechamento há seis anos de um centro de pesquisa antidesertificação administrado pelo governo em Gilbues que ajudou os agricultores a implementar essas técnicas. O estado do Piauí planeja reabrir o espaço, mas não definiu uma data para isso.
A Organização das Nações Unidas (ONU) chama a desertificação de uma “crise silenciosa” que afeta 500 milhões de pessoas em todo o mundo, alimentando a pobreza e os conflitos ao redor do mundo.
Gilbués é um dos seis núcleos de desertificação no Brasil. As demais regiões — Serido, (entre RN e PB), Cariris Velhos (PB), Inhamuns (CE), Sertão Central (PE) e Sertão do São Francisco (BA) — também ficam no Nordeste brasileiro e compõem, juntas, uma área de mais de 18 mil km².
Fonte: O Globo.
Foto: Nelson Almeida/AFP.