Humanos transmitem mais vírus para animais do que o contrário

De acordo com um artigo publicado nesta segunda-feira (25) na revista Nature Ecology & Evolution, os seres humanos são mais responsáveis pela transmissão de vírus para animais domésticos e selvagens do que se contaminam a partir deles.

A pesquisa, orquestrada por cientistas da Universidade College London (UCL), na Inglaterra, analisou todas as sequências de genomas virais – ou seja, suas informações genéticas – disponíveis em acesso público para chegar a essa conclusão.

As zoonoses virais, como são conhecidas as viroses transmitidas por animais, são algumas das principais doenças infecciosas circulantes hoje no mundo. A pandemia de Covid-19 em 2020 e o surto de Ebola em 2013 no continente africano são exemplos dessa notoriedade, que levanta a discussão sobre seus impactos na saúde pública. Contudo, enquanto muito se discute sobre os seres humanos como reservatórios de vírus, seu papel como fonte de transmissão é deixado de lado.

Com base nesse contexto, os pesquisadores investigaram os quase 12 milhões de genomas virais atualmente disponíveis em bancos de dados públicos. A partir dessas informações foi possível reconstruir a história evolutiva dos vírus, assim como rastrear a transferência de hospedeiros em 32 famílias virais

Os pesquisadores observaram que aproximadamente o dobro dos casos de transmissão de hospedeiros foram de humanos para outros animais, em comparação com a transmissão no sentido oposto. Conhecidas como antroponoses, esse padrão de infecção foi recorrente na maioria das famílias virais estudadas. Além disso, casos de transmissão de viroses de animal para animal, sem participação humana, foram os mais identificados.

“Devemos considerar os humanos apenas como um nó em uma vasta rede de hospedeiros trocando incessantemente patógenos, em vez de um reservatório para bugs zoonóticos”, disse Francois Balloux, professor do Instituto de Genética da UCL, em comunicado.

O estudo também revela que as transferências de hospedeiros estão diretamente ligadas a uma maior mutação genética dos vírus – o que mostra a necessidade do microrganismo se adaptar para atingir cada vez mais novos hospedeiros. Vírus que já infectaram diversos animais mostraram menos sinais de alterações genéticas, o que indica uma certa facilidade natural em infectar novas espécies.

“Quando os animais pegam vírus de humanos, isso não apenas pode prejudicá-los e potencialmente representar uma ameaça para a conservação de sua espécie, mas também pode causar problemas à saúde pública, afetando a segurança alimentar se grandes quantidades de gado precisarem ser abatidas para evitar uma epidemia, como tem acontecido nos últimos anos com a cepa H5N1 da gripe aviária”, comenta Cedric Tan, doutorando pelo Instituto de Genética da UCL.

A equipe ainda descobriu que algumas das adaptações genéticas comumente associadas aos saltos de hospedeiros não foram encontradas nas proteínas virais – aparelhos essenciais na captura e entrada nas células saudáveis. Novas pesquisas sobre a adaptação de hospedeiros virais ainda são necessárias para um melhor entendimento desse processo.

Fonte: Revista Galileu.

Foto: Pixabay.