Lixo nas praias é possível causa de onda de mortes de animais no RN

Pelo menos 24 animais, sendo 16 tartarugas-marinhas e 8 golfinhos, morreram no litoral oriental do Rio Grande do Norte em menos de 15 dias. Duas das tartarugas foram encontradas encalhadas ainda com vida, mas não resistiram. O registro é do Projeto Cetáceos da Costa Branca (PCCB), da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), que realiza acompanhamento, resgate e proteção de animais marinhos no RN e em parte do Ceará, em parceria com o Centro de Estudos e Monitoramento Ambiental (Cemam), há 25 anos.

A aproximação de algumas espécies da costa no período reprodutivo influencia o número de encalhes, mas o lixo gerado pelo aumento do fluxo de pessoas nas praias durante o verão parece ser ser a principal causa do fenômeno, segundo o coordenador do projeto Cetáceos, o biólogo e professor doutor Flávio Lima: “Ainda estamos analisando o material coletado, mas já podemos considerar que os indícios são de ingestão de lixo.”

A maioria das ocorrências foi em praias de Natal e da Região Metropolitana: Ponta Negra, Búzios, Redinha, Graçandu e Pitangui, além de uma em Enxu Queimado, na cidade de Pedra Grande. Os casos foram registrados entre os dias 24 de dezembro de 2023 e 6 de janeiro de 2024.

Nesse período do ano, costuma haver mais encalhes, mas o número elevado é anormal, de acordo com Flávio Lima. Entre o dia 24 de dezembro de 2022 e 8 de janeiro de 2023, 15 animais encalharam, entre vivos e mortos. “Desta vez, já temos 24 animais encalhados. Há uma normalidade na perspectiva do aumento de registros, porém há anormalidade por essa quantidade estar quase duas vezes maior que no ano passado.”, explicou.

O biólogo acredita que as praias têm mais gente em atividades de lazer e turismo, já que este é o primeiro veraneio efetivamente fora da pandemia. “Infelizmente, as pessoas mantêm uma cultura de produção e descarte de lixo de forma inadequada.”, lamentou o professor.

Materiais encontrados nos animais

“Nós estamos trabalhando inicialmente com essa hipótese, de termos um aumento excepcional do número de pessoas ocupando as áreas costeiras e marinhas em comparação a períodos anteriores. A gente espera, ao final da temporada, ter dados para fazer uma comparação e análise mais robustas”, argumentou, ao acrescentar que outros fatores climáticos também podem elevar a mortandade dos animais, considerando aqueles que não tiveram mortes relacionadas ao lixo.

Tartarugas e golfinhos confundem plásticos e outros detritos com alimentos, resultando em obstrução gastro-intestinal, lesões internas, constipação, infecção generalizada e morte, detalha o professor. A presença de substâncias tóxicas presentes no lixo pode ainda causar danos ao sistema imunológico e reprodutivo dessas espécies.

“A poluição por resíduos sólidos nos oceanos é um problema global que exige medidas urgentes para reduzir a produção de plástico, promover a reciclagem e conscientizar a sociedade sobre os impactos negativos dessa poluição nos ecossistemas marinhos e na vida selvagem que deles depende.”, ressalta nota do Centro de Estudos.

O Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) tem algumas ações educativas para combater o descarte de resíduos e a circulação de veículos nas praias, uma ameaça para as tartarugas durante o período de desova. Já a fiscalização e responsabilização de condutores são responsabilidades do Comando De Polícia Rodoviária Estadual – CPRE.

Em 2022, uma nota técnica para os municípios litorâneos onde ocorre a desova de tartarugas foi elaborada pelo Idema, com informações fornecidas pelo Projeto Tamar e outras instituições. O documento serve de orientação para a população e gerou a cartilha “Boas práticas para conservação de tartarugas marinhas – Área de Proteção Ambiental Bonfim-Guaraíra”, que disponibiliza conteúdo a respeito de desova, eclosão de ninhos, trabalho de monitoramento, ameaças, os procedimentos corretos ao encontrar uma tartaruga marinha e principais telefones para contato.

O estado conta ainda com a campanha RN+Limpo, que encerrou 2023 com a coleta de 113 toneladas de resíduos eletrônicos.  A campanha chegou a ser apresentada, em dezembro, na COP 28 (Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas).

Fonte: Saiba Mais.

Foto: Acervo Pessoal /Professor Flávio Lima.