Mamífero brasileiro que viveu há 225 milhões de anos é o mais antigo da Terra

Após quase duas décadas de análise, cientistas brasileiros e ingleses determinaram que pequenos fósseis encontrados no Rio Grande do Sul pertencem aos mamíferos mais antigos da Terra. Trata-se da espécie Brasilodon quadrangularis, cujos restos foram escavados no início dos anos 2000 em rochas fossilíferas do período Triássico/Noriano, datadas de aproximadamente 225 milhões de anos.

Os B. quadrangularis mediam cerca de 20 centímetros de comprimento e pesavam pouco mais que 15 gramas. Esses animais tinham hábitos noturnos, caçavam insetos e pequenos répteis e deviam viver em pequenas tocas com seus filhotes, até que eles se tornassem adultos.

Parecidos com os pequenos roedores atuais, os B. quadrangularis eram cinodontes, ou seja, faziam parte do grupo de terapsídeos que viveram em todos os continentes desde o Triássico e incluíam os primeiros mamíferos do planeta e seus “parentes” mais próximos. Apesar de hoje sabermos bem como teriam sido, antes acredita-se que os cinodontes tinham características reptilianas

“Desde que foram encontrados os primeiros fósseis de cinodontes, na segunda metade do século 19, estes pequenos fósseis eram descritos como animais ectotérmicos e ovíparos, isto é; seriam animais de sangue frio e colocariam ovos para sua reprodução”, comenta, em comunicado, Sergio Furtado Cabreira, doutor em Geologia pelo Programa de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O pesquisador é também um dos coautores do artigo sobre a descoberta, que foi publicado no tradicional periódico científico Journal of Anatomy nesta terça-feira (6).

“Nossa pesquisa demonstrou, através de análises de microscopia das mandíbulas e dos dentes, que estes pequenos animais já apresentavam difiodontia, isto é, apenas uma dentição permanente substituindo a dentição de leite”, explica Cabreira.

Além da difiodontia, os brasilodontídeos possuiam outras características fisológicas associaidas aos mamíferos atuais. Esses animais também apresentavam endotermia (“sangue quente”), placentação e lactação.

Respostas na ponta dos dentes

O grupo de pesquisa da UFRGS começou a analisar a dentição dos B. quadrangularis em 2004, após selecionar algumas mandíbulas da espécie, que possuem somente 2 centímetros de comprimento. Com o uso de microscópios avançados, foram tiradas milhares de fotografias que mostraram detalhes dos dentes, do esmalte e da dentina dos extintos animais.

Como o esmalte e outros tecidos dentários mineralizados carregam informações valiosíssimas sobre como foram formados, os cientistas conseguiram descobrir que os B. quadrangularis nasciam com uma dentição de leite que era rapidamente substituída por uma permanente — assim com nós, seres humanos, e outros mamíferos.

Para além das descobertas dentárias, a pesquisa também é relevante por mostrar que os mamíferos placentários são tão antigos quanto os primeiros dinossauros e que muitas características desse grupos são mantidas há milhões de anos, como a lactação e os cuidados maternos. “Mais surpreendente, a descoberta aponta que certas características de algumas ordens de mamíferos, como os Marsupiais e os Monotremados, teriam surgido como elementos reprodutivos secundários, através da evolução de ancestrais placentários”, conclui o paleontólogo brasileiro.

Fonte: Revista Galileu.

Foto: Rochele Zandavalli/UFRGS).