Morcegos reconhecem o toque de celular após 4 anos, mostra pesquisa

A memória de longa duração dos animais ainda é um mistério em muitos casos, e pesquisadores inclusive destacam o custo que guardar lembranças tem para qualquer metabolismo, consumindo energia. Nos Estados Unidos, um estudo liderado pela Universidade do Texas conseguiu provar que, no caso dos morcegos, essa capacidade de lembrar se estende por pelo menos quatro anos.

A equipe de cientistas, que também envolve profissionais do Panamá, capturou morcegos que se alimentam de sapos, comuns na América Latina e os ensinou a identificar o som de um ringtone de recebimento de mensagens. A experiência usou o som de acasalamento dos sapos, usado pelos morcegos para identificar suas presas, e o misturou ao toque do celular.

Os cientistas treinaram 43 morcegos, que ouviam o ringtone e o som dos sapos, e voavam em direção ao alto-falante, onde encontravam comida. Aos poucos, o som dos sapos foi sendo retirado, restando apenas o alerta do ringtone. Os morcegos continuaram sensíveis ao som, e voavam para achar seus petiscos.

Este treino durou entre 11 e 27 dias, onde os animais fizeram ao menos 40 vezes esse movimento de ouvir, identificar e voar em direção ao ringtone. Após a experiência, os morcegos foram microchipados e devolvidos à natureza. Oito foram recapturados com sucesso, alguns deles quatro anos depois.

Os morcegos que haviam sido treinados reconheceram o ringtone e repetiram a reação de voar em direção ao som, em busca de comida. Como contraexemplo, morcegos não treinados foram expostos ao mesmo som e não esboçaram reação.

“Fiquei surpresa”, afirma May Dixon, bióloga evolutiva e ecológica da Ohio State University e uma das autoras do estudo, em um comunicado. “Tinha a convicção de que pelo menos um ano seria um tempo razoável para eles se lembrarem, dadas todas as outras coisas que precisam saber e considerando que a memória de longo prazo tem custos reais. Quatro anos me parecem muito tempo para lembrar um som que você pode nunca mais ouvir”, afirmou, em entrevista à Smithsonian Magazine.

O fato de os morcegos não serem animais de cativeiro é um dos avanços da pesquisa, uma vez que estudos similares com golfinhos e tartarugas, por exemplo, usam animais em cativeiro.

A memória de longo prazo tem vantagens e desvantagens para a vida selvagem, dizem os pesquisadores. Para os morcegos especificamente, é útil lembrar como soam as presas saborosas, mesmo quando ouvem seus chamados com pouca frequência ou apenas durante certas estações. Essa habilidade poupa trabalho, tempo, e garante eficiência para se alimentar quando a oportunidade surge.

Contudo, a memória de longo prazo em geral também é “metabolicamente cara”, consumindo energia, e também pode retardar a tomada de decisão, além de atrapalhar a recuperação de memórias mais recentes. Com este e outros estudos futuros, os cientistas esperam aprender mais sobre quando a memória de longo prazo é de fato útil para os animais.

Fonte: Um só Planeta.