Navio da frota de Vasco da Gama encontrado

Os últimos tempos têm sido fantásticos para as descobertas submarinas. Não faz muito que o mundo se surpreendeu com a descoberta a 3 mil metros de profundidade, e em ótimo estado, do mais que famoso Endurance, o navio que celebrizou Ernest Shackleton.

E, em 1996, o arqueólogo francês Franck Goddio descobriu nada menos que o Palácio Submerso de Cleópatra. Já em 2016 o mundo foi surpreendido novamente com a descoberta de um navio que fazia parte da lendária frota portuguesa de Vasco da Gama. Ele foi encontrado próximo à ilha de Al Hallaniyah, perto da costa de Omã.

O ‘Esmeralda’

Segundo o Ministério do Patrimônio e Cultura, acredita-se que o navio seja o Esmeralda, um navio da segunda viagem comandada por Vasco da Gama (1502-1503).

De acordo com a National Geographic, o naufrágio foi localizado em 1998, quando mergulhadores passaram 20 minutos debaixo d’água e encontraram um naufrágio desconhecido.

A exploração começou quinze anos depois. Em 2013, um grupo liderado por David Mearns da empresa Blue Water Recoveries Ltd. começou a trabalhar no site.

Por dois anos, com o apoio do Ministério do Patrimônio e Cultura de Omã e do Conselho de Expedições da National Geographic Society, o grupo de arqueólogos subaquáticos explorou o local.

Análise em andamento

Segundo a NG, ‘A análise dos milhares de objetos recuperados do naufrágio está em andamento, mas os pesquisadores concluíram em um relatório provisório que a embarcação pertencia à frota de Gama, e com toda a probabilidade é o Esmeralda’.

A conclusão baseia-se em extraordinários artefatos que incluem uma moeda portuguesa cunhada para o comércio com a Índia (uma das duas únicas moedas deste tipo conhecidas) e balas de canhão de pedra gravadas com o que parecem ser as iniciais de Vicente Sodré, tio materno de Gama e comandante do Esmeralda.

O primeiro navio da Era da Exploração a ser encontrado

A National Geographic diz que se este para realmente um naufrágio da frota de Gama de 1502-1503, será o primeiro navio da Era da Exploração a ser encontrado e escavado.

A Era da Exploração refere-se a um período entre meados dos séculos 15 e 17, quando os países europeus buscavam rotas comerciais marítimas globais. No início ela foi dominada por Portugal, que descobriu em 100 anos mais da metade de todo o mundo então conhecido (pelos europeus).

Grande parte dessa atividade foi inicialmente alimentada por tentativas de alcançar os mercados de especiarias do subcontinente indiano, que na época eram controlados pelos governantes muçulmanos do Egito através do Mar Vermelho.

Vasco da Gama, o Almirante do Mar

Vasco da Gama (1469-1524) teve o privilégio de ser o primeiro a dobrar o Cabo da Boa Esperança em 1498. Ele seguia a rota iniciada por Gil Eanes, que dobrou o Bojador (na costa do Marrocos) em 1434.

A partir desse ponto, e sempre por influência do Infante D. Henrique, uma série de heroicos navegadores avançaram costa africana abaixo.

Diogo Cão, Duarte Pacheco Pereira, e Bartolomeu Dias, foram alguns deles. Foi nesse périplo que o Brasil foi descoberto, possivelmente por Duarte Pacheco Pereira.

Os portugueses mantiveram segredo enquanto discutiam com a Espanha o Tratado de Tordesilhas. Só depois do documento assinado, mandaram, então, Pedro Álvares Cabral ‘fazer a descoberta oficial’.

A segunda viagem de Vasco da Gama

Em 1502, Dom Manuel I (r. 1495-1521) rei de Portugal, reconduziu Vasco da Gama como Capitão-mor da quarta expedição portuguesa à Índia, com uma frota de 20 navios armados com canhões pesados ​​para subjugar os mercadores muçulmanos hostis.

Foi um massacre o que então aconteceu. Um impiedoso massacre promovido por Gama. Ele voltou da Índia para Lisboa em 1503, deixando para trás um esquadrão de cinco navios liderado por seu tio Vincente Sodré para proteger as feitorias portuguesas ao longo da costa sudoeste da Índia.

Vincente Sodré no Esmeralda, seu irmão Brás no São Pedro, e os demais da esquadra navegaram para o Golfo de Aden entre a Península Arábica e a África, onde os irmãos Sodré apreenderam e saquearam navios árabes.

Tempestade chegando

Em maio daquele ano, a frota estava ancorada em Al Hallaniyah, uma das ilhas Khuriya Muriya ao largo do que hoje é o sul de Omã, quando moradores alertaram os portugueses que uma tempestade perigosa estava se aproximando.

A explicação é da National Geographic, que diz: Os irmãos Sodré ignoraram o aviso e, segundo relato de uma testemunha ocular, seus navios foram arrancados de suas amarras e arremessados ​​contra as rochas.

O São Pedro foi empurrado para terra e a maioria de sua tripulação sobreviveu, enquanto o Esmeralda e sua tripulação morreram em águas mais profundas.

Estudiosos estimam que dos mais de mil navios que cruzaram a Carreira da Índia – na época a rota marítima mais longa do mundo em que o Brasil desempenhava papel importante como escala – entre 1498 e 1650, cerca de 20% dos navios foram perdidos no mar.

Entretanto, diz a National Geographic, poucos naufrágios da Rota da Índia foram encontrados e escavados e, até a descoberta em Omã, o naufrágio mais antigo conhecido que pôde ser identificado de forma conclusiva foi o de São João, que naufragou na costa sul-africana em 1552.

De acordo com o site ww.ancient.origins.net, ‘Em 2016, a equipe da Blue Water Recoveries retornou à ilha de Al Hallaniyah com o Ministério do Patrimônio e Cultura de Omã. Durante uma conferência, em março de 2016, eles finalmente confirmaram que o navio objeto de sua exploração foi o Esmeralda‘.

Descoberta importante para Portugal e Omã

A expedição em busca do Esmeralda tornou-se um projeto muito importante tanto para Omã quanto para Portugal. Como o conselheiro do Ministro para Assuntos do Patrimônio, Hassan Al Lawati, disse ao Trade Arabia:

Este projeto é considerado o primeiro realizado em Omã e região em arqueologia subaquática. Portanto, o Ministério adotou uma abordagem proativa para garantir que seja conduzido de forma eficiente. Isso foi feito envolvendo a experiência em arqueologia subaquática e trabalhando sob regulamentações internacionais, como a convenção da UNESCO de 2001.

O naufrágio Esmeralda não foi saqueado, por isso o local trouxe milhares de artefatos que ainda são examinados pelos pesquisadores.

Vasco da Gama morreu na Índia durante a sua última expedição, mas os seus restos mortais foram devolvidos a Portugal em 1539. Hoje, é um herói português e o seu túmulo está localizado no Mosteiro dos Jerônimos em Belém, uma das maiores atrações turísticas de Lisboa.

Destino dos marinheiros

A NG conta: O maior mistério encontrado pelos arqueólogos é a aparente falta da tripulação na ilha de Al Hallaniyah.

Segundo relatos, a tripulação do Esmeralda (incluindo Vincente Sodré) naufragou, e os corpos que desembarcaram foram enterrados na ilha junto com os sobreviventes que sucumbiram posteriormente (incluindo o irmão de Vincente, Brás, que morreu de causas desconhecidas).

Ao todo, os arqueólogos estimam que pode haver quase uma centena de membros da esquadra portuguesa enterrados em Al Hallaniyah.

Fonte:National Geographic, Mar sem Fim.