Nova York aprova compostagem de corpos humanos

O estado de Nova York, nos Estados Unidos, legalizou no fim de 2022 a compostagem de corpos de pessoas falecidas. É o sexto estado dos EUA a aprovar a prática, depois de Washington inaugurá-la em 2019. Colorado, Oregon, Vermont e Califórnia vieram na sequência, este último em setembro de 2022.

As pessoas agora podem ter seu corpo transformado em composto orgânico para adubo — o que é visto como uma alternativa sustentável ao enterro ou à cremação.

Também conhecida como “redução orgânica natural”, a prática consiste em deixar o corpo se decompor ao longo de várias semanas dentro de um compartimento fechado.

O método envolve basicamente colocar o corpo da pessoa falecida em uma caixa de aço de 2,5 metros de comprimento com materiais biodegradáveis, como lascas de madeira, alfafa, palha de capim e flores. Depois de um intervalo de tempo que varia de 30 a 60 dias, que envolve também um processo de aquecimento para matar qualquer contágio, o corpo se decompõe em solo, que então é devolvido aos parentes. Estes podem dar ao material a destinação que quiserem e o composto pode ser usado no plantio de flores, hortaliças ou árvores.

Anna Swenson, gerente de divulgação da Recompose, explica ao site Popular Science, que a técnica usa somente 1/8 da energia necessária para enterros ou cremações convencionais. “Não usamos combustíveis fósseis e gás da mesma forma que os crematórios usam”, destaca. “A única eletricidade envolvida é alimentar o computador que monitora as embarcações funerárias”.

O especialista Troy Hottle informa que o enterro verde e a compostagem dos restos humanos funcionam muito melhor na redução de carbono, sendo que entre 0,84 e 1,4 toneladas métricas de dióxido de carbono serão economizadas cada vez que alguém escolher esta última.

Já Walt Patrick, administrador sênior da Herland Forest , organização sem fins lucrativos que também realiza enterros verdes e compostagem humana, explicou que a compostagem é bom para o solo e a vegetação. “A floresta precisa dos elementos que estão no corpo – magnésio, cálcio, fósforo e todas essas coisas no corpo são desesperadamente necessárias para o solo”, afirma.

Debate ético

Hoje em dia, a cremação responde por mais da metade da destinação de corpos nos EUA. Em termos de poluição, não é uma boa alternativa: trata-se de um processo intensivo em energia que despeja no ar produtos químicos como o dióxido de carbono (CO2). Enquanto isso, a compostagem humana, ou redução orgânica natural (NOR), deixa o corpo ser naturalmente decomposto durante várias semanas depois de ser encerrado em um container.

Segundo a empresa americana Recompose informou à BBC, seu serviço de compostagem pode economizar uma tonelada de carbono em comparação com uma cremação ou um enterro tradicional.

Em termos econômicos, pode haver também uma vantagem. Em média, um funeral com enterro nos EUA custou US$ 7.848 em 2021, enquanto um funeral com cremação ficou em $ 6.971, de acordo com a National Funeral Directors Association (NFDA). Já a compostagem custa cerca de US$ 5 mil a US$ 7 mil.

A tendência está em crescimento, mas não é uma unanimidade. Bispos católicos do estado de Nova York, por exemplo, afirmaram que os corpos humanos não deveriam ser tratados como “lixo doméstico”. A Conferência Católica da Califórnia adotou uma linha semelhante, dizendo que o processo de compostagem “reduz o corpo humano a simplesmente uma mercadoria descartável”.

A compostagem humana já é permitida na Suécia. O Reino Unido, segundo a BBC, também aceita enterros naturais, em que o corpo é sepultado sem caixão ou com um caixão biodegradável.

Fonte: BBC Future, Revista Planeta, Revista Galileu.

Foto: Recompose/Divulgação.