Eleito no sábado (21/5), o novo premiê da Austrália, Anthony Albanese, prometeu mudanças significativas na política climática do país – que tem um dos maiores índices de emissão entre as nações ricas e, ao mesmo tempo, tem vivido uma onda de tragédias relacionadas ao clima.
Albanese é do Partido Trabalhista (centro-esquerda), até agora na oposição. Ele derrotou o premiê Scott Morrison, da coalizão Liberal-Nacional, e vai ser juramentado na segunda-feira (23/5). Mas ainda não está claro se seu partido terá maioria no Parlamento.
O novo governante afirmou em seu discurso de vitória que a Austrália pode “aproveitar a oportunidade para se tornar uma superpotência em energia renovável”. Ao mesmo tempo, é pressionado a tomar atitudes mais duras diante do alto consumo de carvão no país.
As mudanças climáticas são uma das maiores preocupações dos eleitores australianos, que passaram por três anos de incêndios florestais e enchentes em níveis recorde, com um saldo de centenas de pessoas e bilhões de animais mortos.
O problema se tornou ainda mais grave porque converge com uma crise no custo da habitação: estima-se que uma a cada 25 casas na Austrália ficará impossibilitada de receber seguro contra incêndio ou enchentes, por estar em zonas consideradas de alto risco.
A expectativa é de que essa combinação de problemas aumente as desigualdades sociais e crie “guetos climáticos”: casas desprotegidas por seguro terão seu preço reduzido e serão habitadas por famílias vulneráveis, incapazes de se defender de eventos climáticos extremos.
Enquanto isso, entre os países desenvolvidos, a Austrália é considerada uma das menos ambiciosas em políticas climáticas e dona de uma das maiores emissões per capita de gases do efeito estufa. O país ainda depende do carvão para produzir a maior parte da sua eletricidade e é exportador de combustíveis fósseis.
O atual premiê Morrison, que não conseguiu ser reeleito, havia se comprometido com reduções nas emissões australianas, mas a atual política climática é considerada um dos pontos-chave que fizeram muitos eleitores australianos se distanciarem do governo atual. Uma cena famosa no país ocorreu em 2017, quando Morrison levou um pedaço de carvão ao Parlamento e exaltou a importância do combustível fóssil para a economia australiana.
Austrália viveu três anos de incêndios florestais e enchentes em níveis recorde, e é um dos países ricos menos ambiciosos em metas de cortes de emissão
Agora, caso o Partido Trabalhista não consiga ultrapassar os 76 assentos no Parlamento para obter maioria, os parlamentares independentes e do Partido Verde – grupos que fizeram campanha por ações radicais no combate às mudanças climáticas – podem ganhar mais influência em moldar as políticas governamentais nessa área.
Isso pode paraçar do novo premiê Albanese uma política com mudanças mais profundas, particularmente com relação ao carvão – até o momento, o novo governante tem rejeitado apelos para que bloqueie licenças para novas minas de carvão ou para que faça o país abandonar o uso desse combustível.
Em entrevista à BBC pouco após sua vitória eleitoral, Albanese afirmou que a Austrália “tem a oportunidade de pôr fim às guerras climáticas no país” e prometeu cortes mais ambiciosos em emissões de gases do efeito estufa.
“Empresas australianas sabem que boas ações (contra) mudanças climáticas são boas para a economia e (a geração de) empregos, e quero me juntar ao esforço global”.
Albanese vai liderar o primeiro governo trabalhista na Austrália em quase uma década.
Nesta segunda-feira, Albanese viajará a Tóquio (Japão) para uma conferência dos governantes de Japão, Índia e EUA, grupo conhecido pelo acrônimo Quad.
“Será uma oportunidade para que mandemos uma mensagem de que há uma mudança de governo e de políticas em temas como mudanças climáticas”, afirmou Albanese.
O novo premiê é conhecido da política australiana e serviu brevemente como vice-primeiro-ministro em 2013.
Fonte: BBC News.