“O Que as Florestas e o Desmatamento Têm a Ver com a Nossa Saúde”

Florestas saudáveis têm diversas funções benéficas para sua flora e fauna, o que acaba por incluir também os seres humanos que vivem em seu entorno ou muitas vezes até mesmo a centenas de quilômetros de distância. Para ressaltar a importância da preservação e recuperação dos espaços naturais no Brasil, a WWF-Brasil divulgou a nota técnica “O Que as Florestas e o Desmatamento Têm a Ver com a Nossa Saúde”, onde destaca as vantagens de manter o verde saudável, e os perigos da depredação destes espaços.

A pandemia de Covid-19, que confinou o mundo nos últimos anos, é um exemplo de zoonose que foi transferida do ambiente animal para a sociedade. Porém, assim como o coronavírus, outros diversos microorganismos migram de áreas desmatadas e podem ameaçar a saúde humana. E nem sempre o perigo vem de uma doença desconhecida, mas sim de um desequilíbrio ambiental que fortalece velhos inimigos.

O WWF-Brasil cita o relatório publicado em abril, da Hutukara Associação Yanomami, que mostra uma explosão de casos de malária entre indígenas que vivem em aldeias próximas a garimpos ilegais. O desmatamento e as piscinas de resíduos deixadas pela atividade alteram os ecossistemas das regiões, favorecendo o aumento do número de mosquitos transmissores da doença. Como resultado direto, entre 2014 e 2020 os casos de malária cresceram 716 vezes na Terra Indígena Yanomami, passando de cinco casos em 2014 para 3.585 casos em 2020.

Segundo a ONG, um aumento de 10% no desmatamento leva a um aumento de 3,3% na incidência da malária. “Durante o último século, em média, dois novos vírus por ano se espalharam de hospedeiros animais para as populações humanas, é o caso do ebola, MERS, SARS e zika. O risco de surgimento de novas zoonoses em florestas tropicais é maior, por causa da sua grande diversidade de roedores, primatas e morcegos, mas também pelas suas altas taxas de desmatamento”, destaca a nota.

“O Brasil está entre os países campeões de desmatamento de floresta e outros biomas. Essas perdas impactam diretamente o clima e favorecem o surgimento de novas zoonoses provenientes do desequilíbrio ambiental”, afirma Mariana Napolitano, gerente de ciências do WWF-Brasil.

Porém, não só os povos da floresta sofrem com a alteração do equilíbrio promovido pelas florestas brasileiras. A estação das queimadas na Amazônia, entre os meses de julho e outubro, faz o ar da região mudar drasticamente, e o que antes era limpo graças à vegetação e a umidade se transforma em uma nuvem gigante de fuligem, que costumeiramente gera uma alta de doenças respiratórias na região e impacta pontos distantes, como quando a cidade de São Paulo viu o dia virar noite em agosto de 2019 após uma série de queimadas dias antes no estado do Pará, no episódio que ficou conhecido como Dia do Fogo.

Em períodos que juntam o “combo” de incêndios intensos aliados à seca extrema, os poluentes da queima de biomassa têm potencial para aumentar as taxas de mortalidade cardiorrespiratória, bem como induzir danos genéticos que contribuem para o desenvolvimento de câncer do pulmão, afirma a nota.

O desmatamento, coloca o WWF-Brasil, faz também com que trabalhadores rurais tenham que lidar com a redução do conforto térmico relacionado a perda de áreas florestadas. “Relatos mostram que o intervalo do dia no qual o calor inviabiliza o trabalho físico aumenta em regiões com poucos remanescentes florestais”, afirma Napolitano, que cita ainda a degradação de mananciais e a diminuição do acesso à água potável, uma questão que prejudica tanto a saúde pública quanto o potencial da agricultura.

Além das doenças do corpo, os males da mente também tendem a se agravar em um mundo menos verde. Segundo estudos reunidos pelo WWF-Brasil, a experiência na natureza está associada a uma melhora em vários índices de saúde, como a diminuição da pressão arterial, a redução dos hormônios associados ao estresse, a melhora dos batimentos cardíacos, do humor e da função cognitiva. “Cuidar do planeta é efetivamente cuidar da saúde”, ressalta a gerente da ONG.

Todos os ecossistemas naturais e não só a floresta amazônica contribuem para a saúde física e mental, propiciando bem-estar emocional, habilidades pessoais e sociais, através do contato com a natureza, e fornecendo alimentos naturais de alto valor nutritivo.

O levantamento da ONG aponta que o melhor manejo da paisagem em áreas de atividades agropecuárias, a restauração das florestas desmatadas ou degradadas, inclusive as próximas de centros urbanos, podem ajudar a manter as florestas e evitar os riscos de sua destruição.

“Sistemas agroflorestais são apontados como uma das soluções para a produção sustentável. São altamente sofisticados e incluem uma multiplicidade de plantas cultivadas, manejo complexo da paisagem, articulação com outras atividades de subsistência (caça, pesca, extrativismo) e diversas estratégias e práticas de manejo que refletem pelo menos 12.000 anos de interação com plantas e paisagens por povos indígenas e comunidades tradicionais.”

Fonte: Um só Planeta: