Em uma das mais complexas operações de resgate de mamíferos marinhos já realizadas, duas baleias beluga foram retiradas de um aquário na cidade de Kharkiv, no leste da Ucrânia, e transportadas para o maior aquário da Europa em Valência, na Espanha, na manhã de quarta-feira (19).
Com bombardeios aéreos russos em Kharkiv se intensificando, o resgate de Plombir, um macho de 15 anos, e Miranda, uma fêmea de 14 anos, ocorreu no momento certo, disseram especialistas em mamíferos marinhos.
“Se tivessem continuado em Kharkiv, suas chances de sobrevivência teriam sido muito pequenas”, disse Daniel Garcia-Párraga, diretor de operações zoológicas do Oceanogràfic de Valência, que ajudou a liderar o resgate.
A baleia beluga, também chamada de baleia-branca e cujo habitat natural é o Ártico, precisa de água fria para sobreviver. Com a destruição da rede elétrica em Kharkiv, o aquário local tinha que depender de energia de geradores, tornando difícil manter a água resfriada.
Ao mesmo tempo, as dietas das baleias foram reduzidas recentemente devido à escassez dos 60 quilos de lulas, arenque, cavalinhas e outros peixes frescos de que o par precisa diariamente, disse Garcia-Párraga. Os cuidadores ucranianos estavam até considerando usar peixes descartados de restaurantes e mercados.
Além disso, nas últimas semanas bombas explodiram perto o suficiente para agitar as águas do NEMO Dolphinarium, onde as baleias moravam. Com as condições se tornando mais precárias, os ucranianos decidiram que as baleias precisavam ser resgatadas.
Mover mamíferos marinhos é arriscado na melhor das hipóteses. O transporte de animais doentes ou estressados aumenta a dificuldade.
Dan Ashe, chefe da Associação de Zoológicos e Aquários e ex-chefe do Serviço de Vida Selvagem dos EUA, disse que foi necessário “a equipe de especialistas em mamíferos marinhos mais competente do mundo” para realizar o que ele disse ser “provavelmente o resgate de mamíferos marinhos mais complexo já realizado”.
Especialistas do Oceanogràfic de Valência, do Georgia Aquarium em Atlanta, nos EUA, e do SeaWorld ajudaram os ucranianos na operação, uma jornada de 36 horas por mais de 3 mil quilômetros que começou na segunda-feira (17) à noite e foi concluída pouco antes do amanhecer de quarta-feira.
As baleias chegam ao aquário de Valência depois da operação para resgatá-las de Kharkiv, na Ucrânia – 19.jun.24/The New York Times via Oceanogràfic de Valencia
Kharkiv pode parecer um local improvável para belugas. Mas mais de 3.500 cetáceos — um grupo de animais que inclui baleias, golfinhos e botos — vivem em cativeiro ao redor do mundo, diz Lori Marino, especialista em inteligência de cetáceos e bem-estar animal em cativeiro. “Não me surpreende encontrar cetáceos em cativeiro em qualquer lugar”, disse ela em um e-mail.
Marino, que também é presidente do Projeto Santuário de Baleias, disse que os cetáceos não devem ser mantidos em cativeiro.
“Mas se forem, temos o dever moral de mantê-los fora de perigo”, disse ela.
Os Dolphinariums NEMO, que operam em várias localidades na Ucrânia, enfrentam repetidas acusações de abuso animal. A UAnimals, um grupo de direitos dos animais que evacuou milhares de animais desde a invasão da Rússia, emitiu um relatório contundente este ano sobre os dolphinariums.
Fonte: Folha SP, New York Times.
Foto: 19.jun.24/The New York Times via Oceanogràfic de Valencia.