Pássaro Dodô: conheça a espécie extinta que empresa deseja “reviver”

Extinto por volta de 1662 a 1690, o pássaro dodô (Raphus cucullatus) parecia um grande pombo, mas não voava. De cor cinza ou marrom e com cauda branca, esta ave que pesava cerca de 23 quilos e media quase 1 metro de altura foi aniquilada pelo ser humano cerca de 150 anos após veleiros europeus chegarem a Maurício, ilha no Oceano Índico onde o animal viveu.

Graças à ciência, talvez possamos, no futuro, ver um desses pássaros novamente. Nesta terça-feira (31), a Colossal Laboratories & Biosciences, uma startup de biotecnologia em Dallas, no estado norte-americano do Texas, anunciou que pretende trazer o dodô de volta à vida.

Sossegados no paraíso

Não se sabe ao certo como os dodôs chegaram na misteriosa ilha de Maurício, que era o seu único lar. De acordo com a Colossal, as condições de vida por lá eram tão ideais para a ave que ela se tornou incapaz de voar e deixar aquele paraíso.

Os dodôs simplesmente desconheciam os perigos representados pelos animais predadores, porque, durante a maior parte de sua existência, eles não encontraram nenhum perigo. Mas a ausência de predadores naturais fez com que o temperamento, as características e o comportamento dos pássaros se tornassem alvo fácil para os humanos e as espécies invasoras que acompanhavam os colonos.

Com o tempo, as cabeças dos dodôs diminuíram de tamanho e os bicos ficaram mais longos e curvos, permitindo o acesso à comida baixa, frutas caídas e raízes. O crescimento das asas não utilizadas havia desacelerado, mantendo aparência juvenil e uma envergadura de 56 até 66 centímetros.

A estrutura mais pesada das aves não só eliminou a habilidade de voo como exigiu um suporte adicional e maior mobilidade. Com isso, os pássaros ganharam ossos grossos nas pernas, grandes rótulas e uma pelve larga.

Devido à sua estrutura, o dodô tem fama de desajeitado, burro e pesado. O pássaro ficou conhecido inclusive ao aparecer no clássico “Alice no País das Maravilhas”, do escritor Lewis Carroll. Mas foi justamente o físico da ave e a falta de predadores que permitiram que ela prosperasse no solo, onde procurava comida e corria sobre duas pernas curtas.

Segundo conta em comunicado Leon Claessens, Professor de Paleontologia e Evolução de Vertebrados Universidade de Maastricht, na Holanda, “mesmo que esta ave não seja o Usain Bolt do Reino Animal ou dos pássaros, ela tem uma anatomia consistente com uma agilidade muito maior” do que a de sua reputação.

Comedor de pedras

O aperitivo preferido do dodô eram pedras — o que provavelmente não ajudou a desmentir sua fama de estúpido. Apesar disso, segundo a Colossal, as rochas foram uma “escolha sábia e uma parte essencial da dieta da ave”.

Quando ingeridas primeiro, as pedras serviam como caroços de moela ou gastrólitos, que trituram tudo o que se segue, auxiliando na digestão de frutas fibrosas, nozes, sementes, bulbos, mariscos e caranguejos.

Embora se alimentassem bem, os dodôs se reproduziam pouco. As fêmeas botavam apenas um ovo por ano. A estrutura óssea das aves sugere que os filhotes eclodiam por volta de agosto com uma altura média de 20 cm. Os bebês então cresciam muito rapidamente até a idade adulta, preparando-se para os ciclones que atingiam a ilha de Maurício entre novembro e março.

Ressurreição através da ciência

Trazer o dodô de volta aos dias de hoje é possível graças a Beth Shapiro, especialista em DNA antigo da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz. Conforme o site MIT Technology Review, ela e seus colegas de trabalho conseguiram recuperar informações detalhadas de DNA de restos dessas aves de 500 anos em um museu na Dinamarca.

O processo para “ressuscitar” a espécie parente de abutres e pombos irá partir da modificação do parente vivo mais próximo do pássaro extinto, o colorido pombo-de-nicobar (Caloenas nicobarica). A Colossal irá testar uma variedade de condições para otimizar os parâmetros de crescimento de células germinativas primordiais (PGCs) desses pombos.

Além disso, a empresa irá utilizar dados do solitário-de-rodrigues (Pezophaps solitaria), outra ave extinta, e parente genético mais próximo do dodô. Com uma abordagem de aprendizado de máquina, a startup irá realizar ainda uma evolução direcionada de ferramentas de edição genética mais eficiente para encurtar o processo.

No final de tudo, será feita uma transferência de linhagem germinativa de PGCs dos pombos-de-nicobar em um hospedeiro de frango substituto, criando assim uma “barriga de aluguel interespécies”, até passar para o último passo, a incubação do ovo.

Enquanto isso, a Colossal também está trabalhando no uso de engenharia de genoma em larga escala para transformar elefantes modernos de volta em mamutes-lanudos e ressuscitar o extinto lobo-da-tasmânia.

Fonte: Revista Galileu.

Foto: Colossal Laboratories & Biosciences.