Uma pesquisa da Embrapa Pecuária Sudeste concluiu que o plantio de feijão guandu BRS Mandarim consorciado com os capins Marandu e Basilisk reduz em 70% a emissão diária de gás metano pelos animais e ainda aumenta em 58% o ganho de peso dos bovinos na comparação com o pasto degradado. A emissão diária do gás por quilo de ganho de peso foi de 614,05 gramas no pasto consorciado, cerca de 70% a menos do que no degradado, com 2.022,67 gramas.
Os pesquisadores alertam que a tecnologia pode ser vantajosa não só para os pecuaristas, mas também para o Brasil, que, em 2021, durante a 26ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP26), na Escócia, assumiu o compromisso de reduzir 30% suas emissões de metano até 2030.
Alexandre Berndt, chefe-geral da unidade da Embrapa, que tem sede em São Carlos (SP), diz em nota que qualquer tecnologia que reduza metano, com baixo custo, e que contribua para a eficiência do sistema de produção e para a sustentabilidade é desejável e deveria ser adotada.
A pesquisa, desenvolvida em parceria com a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP e o Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP de Piracicaba (SP) entre julho de 2020 e julho de 2021, avaliou o desempenho e a emissão de metano entérico (resultante do processo digestivo) de novilhos Nelore em três diferentes sistemas de produção: o consorciado com guandu BRS Mandarim, o pasto recuperado e o degradado.
Foram utilizados no experimento 27 animais entre 15 e 16 meses, que foram pesados mensalmente. A emissão de gás metano foi medida por cinco dias consecutivos na estação das águas e na seca pela técnica manual do gás traçador de hexafluoreto de enxofre, em que o animal usa um cabresto acoplado a uma canga.
Os bovinos no tratamento consorciado com guandu ganharam 478 gramas por dia, seguido do recuperado, com 387 gramas por dia e, por último, no degradado, com 302 gramas por dia de média de ganho de peso anual. No pasto recuperado, a emissão diária de metano por quilo de ganho de peso também foi bem menor do que no degradado: 1.053,55 ou 48% a menos.
Para a pesquisadora da Embrapa Patricia Perondi Anchão Oliveira, a pastagem degradada é sempre o pior de todos os cenários. De forma geral, o processo de degradação é caracterizado por perda de produtividade acentuada da pastagem (baixa produtividade), grandes áreas de solos expostos, plantas daninhas, erosões, sintomas evidentes de deficiência nutricional nas plantas e nos animais, e menor ritmo de crescimento das plantas, que se refletem nas questões ambientais.
“Nessas condições o solo encontra-se exaurido, comprometendo a produção e qualidade da forragem e o desempenho dos animais, fatos que aumentam a emissão de metano entérico, além de ocorrer o processo de perda de matéria orgânica do solo, que prejudica o sequestro de carbono”, diz ela.
Segundo a cientista, a recuperação de pastagens a partir da inserção de leguminosas é uma solução muito procurada no meio técnico-científico, pois por meio da fixação biológica de nitrogênio, a leguminosa fornece esse nutriente tanto para alimentação dos animais quanto para a melhoria do solo.
“Em tempos de escassez e preços elevados dos fertilizantes nitrogenados e dos suplementos minerais proteicos, além de preocupações com as emissões de metano entérico, esse tipo de tecnologia se reveste de mais relevância ainda.”
Os resultados foram apresentados durante o VIII Congresso Internacional de Gases de Efeito Estufa em Sistemas de Produção Animal, realizado em junho, nos EUA.
Fontes: Um Só Planeta, Globo Rural.
Foto: Embrapa / Divulgação.