Pessoas com inflamações intestinais têm mais microplásticos nas fezes

Cientistas da Universidade Médica de Nanjing, na China, parecem ter descoberto uma nova ameaça dos microplásticos à saúde humana. Analisando amostras de um grupo de 102 pessoas, eles descobriram que as que convivem com doenças intestinais crônicas, as chamadas doenças inflamatórias intestinais (DII) apresentam mais microplásticos nas fezes do que pessoas saudáveis. O estudo foi publicado em 22 de dezembro na ACS’ Environmental Science & Technology.

Os microplásticos, como o nome sugere, são pequenas partículas de polímeros, menores que 5 milímetros, que se originam da decomposição de plásticos maiores. Não é incomum nos depararmos com reportagens alertando sobre os efeitos deles na vida marinha, mas o oceano não é o único destino dos microplásticos. Eles também estão dispersos no ar e presentes nos alimentos e água ingeridos pelos seres humanos. O resultado da ingestão deles, já sugerem alguns estudos, é preocupante.

Isso também é o que apontam os pesquisadores chineses que estudaram a presença dos microplásticos nas fezes de pessoas com DII. O ponto de partida do estudo foram os efeitos dessas partículas em modelos animais: já foi comprovado que elas podem causar inflamação intestinal e distúrbios do microbioma do intestino.

Os pesquisadores Faming Zhang e Yan Zhang decidiram investigar, então, se também havia uma relação entre os microplásticos e as inflamações intestinais crônicas, como a doença de Crohn e a colite ulcerosa – síndromes geralmente desencadeadas ou agravadas pela dieta e por fatores ambientais. O resultado da investigação reforçou a teoria elaborada por eles.

A partir da comparação entre as amostras fecais de 50 pessoas saudáveis e 52 pessoas com síndromes intestinais, os cientistas observaram uma prevalência 1,5 vezes maior de partículas de microplásticos por grama nas amostras do segundo grupo. Em ambos os grupos, as partículas eram dos mesmos tipos de polímero – tereftalato de polietileno, usado em garrafas PET, e poliamida, encontrado em embalagem e tecidos – e tinham formato semelhante a folhas e fibras. Eram, no entanto, menores nas amostras de pessoas com DII, medindo em torno de 50 micrômetros (μm).

Por meio de um questionário, também foi possível observar que pessoas dos dois grupos que beberam mais água engarrafada, comeram mais comida para viagem (embalada) e foram mais expostas à poeira tinham mais microplástico nas fezes.

Ao final da análise, o grupo de pesquisadores conseguiu afirmar que, de fato, existe uma correlação entre as inflamações crônicas intestinais e a presença de microplásticos nas fezes. O que ainda não ficou provado é se a presença dessas partículas contribuiu para o desenvolvimento das doenças, ou se pessoas com essas doenças são mais propensas a reterem microplásticos em seus intestinos.

Fonte: Revista Galileu.

Foto: Adaptado do Environmental Science & Technology.