O crescimento significativo da aquicultura levou a pesca global e a produção aquícola a um nível recorde, uma vez que os alimentos aquáticos representam uma contribuição cada vez mais crítica para a segurança alimentar e nutricional no século XXI.
A produção global de alimentos aquáticos cultivados superou pela primeira vez na história a captura de peixes selvagens, segundo um relatório publicado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). A conquista ocorre, no entanto, em meio a um cenário preocupante: o aumento contínuo da pesca predatória e a diminuição de estoques pesqueiros manejados de forma sustentável. Os dados fazem parte do estudo “O Estado Mundial da Pesca e Aquicultura”.
Segundo o documento, a produção total de pescados e aquicultura atingiu o recorde de 223 milhões de toneladas métricas, com valor estimado em US$ 472 bilhões. O crescimento foi impulsionado principalmente pela aquicultura, que agora responde por 51% da produção global de animais aquáticos.
A edição de 2022 do Estado Mundial da Pesca e Aquicultura (SOFIA) observa que em 2020 o crescimento da aquicultura, particularmente na Ásia, fez com que a produção total de pesca e aquicultura atingisse um recorde histórico de 214 milhões de toneladas (178 milhões de toneladas de peixes aquáticos 36 milhões de toneladas de algas).
A produção de animais aquáticos em 2020 foi 30% superior à média dos anos 2000 e mais de 60% acima da média dos anos 1990. A produção recorde de aquicultura de 87,5 milhões de toneladas de animais aquáticos impulsionou em grande parte esses resultados.
À medida que o setor continua a se expandir, a FAO diz que são necessárias mudanças transformadoras mais direcionadas para alcançar um setor de pesca e aquicultura mais sustentável, inclusivo e equitativo. Uma “Transformação Azul” na forma como produzimos, gerimos, comercializamos e consumimos alimentos aquáticos é crucial se quisermos alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
O relatório também aponta que 63% dos produtos aquáticos cultivados vêm de águas continentais, enquanto 37% são provenientes de áreas marinhas e costeiras. No entanto, a FAO alerta que o manejo de estoques pesqueiros selvagens sustentáveis ainda está longe do ideal, colocando em risco o equilíbrio ambiental.
Outro dado relevante é a participação feminina no setor: as mulheres representam 24% dos trabalhadores da pesca e aquicultura, um aumento de 3% em relação a 2022, além de constituírem 62% da paraça de trabalho no processamento de pescados. A Ásia mantém sua liderança global, concentrando mais de 70% da produção de animais aquáticos e 90% da aquicultura.
A aquicultura determina o futuro dos alimentos aquáticos
A aquicultura cresceu mais rápido do que a pesca de captura nos últimos dois anos e espera-se um aumento ainda maior na próxima década. Em 2020, a produção animal aquícola alcançou 87,5 milhões de toneladas, 6% a mais que em 2018. Por outro lado, a produção da pesca de captura caiu para 90,3 milhões de toneladas, o que representa um decréscimo de 4,0% em relação à média registrada nos três anos anteriores.
A redução na produção pesqueira de captura foi impulsionada principalmente pela pandemia de COVID-19, que interrompeu severamente as atividades de pesca, o acesso ao mercado e as vendas, bem como uma redução nas capturas da China e uma queda nas capturas de anchoveta, que flutuam de forma natural.
A crescente demanda por peixes e outros alimentos aquáticos está causando uma rápida mudança no setor de pesca e aquicultura. O consumo está projetado para aumentar em 15% e alcançará 21,4 kg per capita em 2030, impulsionado principalmente pelo aumento da renda e urbanização, mudanças nas práticas de pós-colheita e distribuição e novas tendências alimentares, com atenção especial à melhoria da saúde e nutrição.
A produção total de animais aquáticos está projetada para atingir 202 milhões de toneladas em 2030, principalmente devido ao crescimento contínuo da aquicultura, que deve atingir 100 milhões de toneladas pela primeira vez em 2027 e 106 milhões de toneladas em 2030.
Fontes: FAO, Estadão, Tribuna do Norte.
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