Quase um terço dos brasileiros nunca esteve em um parque natural

Com recorde de quase 12 milhões de visitas em 2023, os parques brasileiros ainda carecem de melhor divulgação para atrair turistas e promover o desenvolvimento das comunidades do entorno. Pesquisa feita pelo Instituto Semeia, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIo) e o Ekos Brasil, mostra que 29% dos brasileiros ainda não esteve em nenhum parque natural. Mesmo os parques urbanos, que são reservas verdes dentro de grandes cidades, são ainda inacessíveis para parte da população, já que 18% das pessoas nunca visitou um deles.

— Os parques têm potencial enorme para serem visitados, mas ainda faltam divulgação e informações sobre o que oferecem. A visitação gera um círculo virtuoso. Desperta conscientização sobre a necessidade de preservar e gera renda para as comunidades do entorno, que passam também a preservar — afirma Mariana Haddad, coordenadora de Conhecimento do Instituto Semeia.

Parques naturais são áreas de preservação onde podem ser realizadas visitas turísticas, atividades de pesquisa e educação ambiental. Os parques urbanos têm como vocação, além de preservar áreas verdes, reunir pessoas para lazer, prática de esportes ou eventos culturais.

O Brasil tem 569 parques e o mais visitado entre os naturais é o Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro. A percepção, porém, é que a maioria dos turistas é atraída pela estátua do Cristo Redentor e seu mirante. Os parques mais lembrados pelos 1.539 entrevistados da pesquisa, com idade entre 16 e 70 anos, foram o da Chapada Diamantina, na Bahia, citado por 53% deles; seguido pelo Chapada dos Veadeiros, em Goiás, com 50%; e pelo dos Lençóis Maranhenses, no Maranhão, com 48%.

Embora 96% das pessoas tenham dito que conhecem algum parque natural, o percentual dos que visitaram cai para 71%. Ao mesmo tempo em que a natureza atrai, custos de deslocamento e hospedagem são mencionados como as principais dificuldades, além da distância em relação à residência. Faltam ainda informações sobre atividades e infraestrutura disponível, por exemplo.

Na avaliação de Mariana, é preciso criar políticas integradas, envolvendo responsáveis por políticas ambientais, turismo, infraestrutura e desenvolvimento econômico, com estímulo ao empreendedorismo e treinamento de moradores do entorno.

— A visitação é uma ferramenta de conscientização ambiental e desenvolvimento. Acreditamos que os brasileiros possam se apaixonar pelos nossos parques e se apropriar desses espaços, mas ainda falta conhecimento e oportunidade — diz a coordenadora.

Nos parques urbanos, um simples passeio, a possibilidade de relaxar e contemplar a natureza são os principais motivadores das visitas, ao lado de atividades como levar crianças para brincar ou fazer exercícios físicos. A maioria das pessoas permanece neles entre uma e três horas. Chama atenção a falta de acesso à população de renda mais baixa. Dos que nunca foram a um parque deste tipo, 19% são das classes D ou E e 56% da classe C. Entre os motivos para não ir, 30% citam a distância da residência e 13% o custo.

Tanto nos parques urbanos quanto nos naturais, geralmente em lugares distantes, há espaço para melhoria de serviços e infraestrutura, embora a maioria dos que visitaram tenham feito avaliação ótima ou boa. Falta de transporte dentro dos parques naturais e de equipamentos e atividades de lazer são as principais carências dos parques naturais, itens mencionados por 25% e 22% dos entrevistados, pela ordem. Nos parques urbanos, 14% das pessoas disseram que não há canais de atendimento entre o cidadão e a administração do parque e 11% afirmaram que faltam equipamentos e atividades de lazer.

A proximidade com a natureza, geralmente exuberante, pode ainda ser mais bem explorada para educação ambiental. Entre os que foram a parques naturais, 20% disseram que não havia ou não participaram de alguma atividade na área. Outros 7% acharam a atividade ruim. Outros 19% disseram que não havia serviço de guia ou monitoria.

Nos parques urbanos, 22% disseram que não havia qualquer atividade de educação ambiental e 8% classificaram a iniciativa existente como ruim.

A pesquisa avaliou ainda a percepção sobre a administração dos parques. Concessões e parcerias com a iniciativa privada na oferta de serviços são bem vistas pela metade dos entrevistados como alternativa de gestão dos parques naturais. Nada menos do que 71% concordam que parcerias melhoram o atendimento à população. E 75% afirmam que, mesmo quando dispõe de recursos, o poder público não é eficiente na gestão.

Dos entrevistados, 49% afirmaram ser favoráveis à concessão de parques naturais à iniciativa privada, por tempo determinado, enquanto 22% discordaram e o restante disse não saber responder ou ser indiferente. No caso dos parques urbanos, o percentual de favoráveis sobe para 58% e o dos que são contrários, 15% – 36% são indiferentes ou não souberam se posicionar.

Fonte: O Globo.

Foto: Ferreira Silva/iStock.