Turismo e Conservação Ambiental

O turismo de natureza é um dos protagonistas na retomada das atividades do setor e deve despontar na preferência dos brasileiros para viagens e passeios a partir do avanço da vacinação. O Brasil, segundo país do mundo em atrativos naturais, segundo o Fórum Econômico Mundial oferece diversas opções para quem deseja se conectar com o ambiente natural.

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é responsável por manejar 324 unidades de conservação (UCs) que abrangem mais de 79 milhões de hectares do território nacional. Grande parte dessas áreas administradas pelo ICMBio, ou seja, 142 Unidades de Conservação (UC’s) — 63 na Região Norte, 18 no Sul, 9 no Centro-Oeste, 20 no Sudeste e 32 no Nordeste  — servem como destinos recreativos para visitantes de todo o país e de outras partes do mundo. Em férias ou em passeios de um dia, os visitantes gastam tempo e dinheiro nas comunidades de acesso aos parques. A despesa dos visitantes gera e mantém considerável atividade econômica nas comunidades de acesso às UC.

No total, o Brasil tem 787 mil quilômetros quadrados protegidos por 324 unidades de conservação federais, que incluem parques e florestas nacionais, reservas extrativistas e áreas de proteção ambiental, entre outras categorias. Trata-se de uma área equivalente a cerca de 9% do território brasileiro e pouco menor do que a soma dos territórios de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul.

Em 2015, as UCs federais receberam mais de 8 milhões de visitas. Os visitantes gastaram R$ 1,1 bilhão nos municípios de acesso às UCs. A contribuição total desses gastos para a economia nacional foi de 43 mil empregos, R$ 1 bilhão em renda, R$ 1,5 bilhão em valor agregado e R$ 4,1 milhões em vendas. O setor de hospedagem registrou a maior contribuição direta, com R$ 267 milhões em vendas diretas, seguido pelo setor de alimentação, com R$ 241 milhões.

A análise mostrou que cada real investido no ICMBio produziu R$ 7 em benefícios econômicos para o Brasil. O estudo reforçou que os impactos econômicos do turismo afetam diretamente a gestão das UCs e os empreendimentos turísticos, além de afetar indiretamente outros tipos de negócios e comunidades locais.

Os resultados destacam a importância do turismo nas UCs e nas regiões adjacentes. Investimentos adicionais em uso público em UC estimularão o crescimento da visitação e, consequentemente, a expansão das economias locais, gerando benefícios para as comunidades e assegurando o desenvolvimento sustentável.

O aumento de público nas unidades de conservação é comemorado por profissionais do setor por traduzir o crescente interesse da população por essas áreas. Parte do crescimento também se deve ao fato de que mais unidades, principalmente as menores, passaram a contabilizar o número de visitantes.

Quanto mais as pessoas conhecem, mais tendem a respeitar essas áreas, afirmou à DW Brasil o biólogo americano Thomas Lovejoy, falecido recentemente, que estudou a Amazônia desde a década de 1960.

Em 2017, por exemplo, os visitantes gastaram cerca de R$ 2 bilhões em hospedagem, alimentação e no comércio dos municípios de acesso às unidades. O valor corresponde a quase quatro vezes o total de despesas do ICMBio naquele ano, quando foram gastos R$ 587 milhões, conforme o Portal da Transparência do Governo Federal.

A bióloga Angela Kuczach, diretora executiva da Rede Pró-Unidades de Conservação (Pró-UC) — formada por entidades de defesa do meio ambiente, ressalta que o crescimento da visitação nas unidades de conservação federais ainda é limitado pela falta de infraestrutura, rede hoteleira e transporte. “O parque é o grande chamariz, mas se você chega à região e ela não oferece condições de se hospedar e ter serviços, o turista não volta”, pontua.

As dez primeiras colocadas no ranking das unidades de conservação mais procuradas em 2018 receberam, juntas, 76,5% do total de visitantes. Muitas delas são áreas turísticas já consagradas, como o Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde fica o Cristo Redentor, que recebeu 2,65 milhões de turistas no ano passado, e o Parque Nacional do Iguaçu, por onde passaram 1,89 milhão de pessoas em 2018. Somadas, as duas áreas mais visitadas receberam mais de um terço dos turistas das unidades de conservação federais. Elas são também as áreas com a melhor infraestrutura de acesso, circulação interna e rede de serviços próximos.

Em 2018, foram gerados cerca de 90 mil empregos, R$ 2,7 bilhões em renda, R$ 3,8 bilhões em valor agregado ao Produto Interno Bruto (PIB – soma de todos os bens e serviços produzidos no país) e R$ 1,1 bilhão em impostos.

Em 2019, cerca de 15 milhões de turistas visitaram reservas ambientais federais no Brasil, uma alta de 300% nos últimos 13 anos, de acordo com Estudo da Fundação Boticário, o que representa um aumento de mais de 20% em relação ao ano anterior.

Se por um lado esse aumento reflete um maior interesse dos brasileiros em conhecer as belezas naturais do país, por outro apenas 22 das 142 unidades de conservação (UCs) concentram 92% desses visitantes. Vale ressaltar que o ecoturismo contribui para a conservação da natureza e para a sensibilização da sociedade em relação ao meio ambiente, além de impulsionar, como foi dito, o desenvolvimento da economia nacional com a geração de emprego e renda.

A maior parte das unidades, tanto públicas como privadas, não disponibiliza dados sobre visitação de turistas ou simplesmente não faz essa contagem. Ou seja, possivelmente o volume de turistas é ainda maior, mas a falta de dados públicos impede um diagnóstico mais completo sobre o setor.

Problemas de regularização, de dados públicos, de infraestrutura, falta de pessoal e até de acesso impedem que o setor deslanche. Ou seja, o turismo ecológico, tido como alternativa de desenvolvimento econômico e sustentável, ainda engatinha no Brasil, embora o país tenha um enorme potencial a ser explorado no segmento.

Segundo o ICV-Tur (índice da pesquisa elaborada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), o setor movimentou R$ 238,6 bilhões, acréscimo de R$ 5,1 bilhões em relação ao ano anterior. O segmento representa 8,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Já o turismo ecológico movimentou R$ 2,4 bilhões nos municípios de acesso às unidades de conservação em 2019, segundo o ICMBio. Só em impostos, o setor gerou R$ 1 bilhão, além de 90 mil empregos.

Em 2020, as Unidades de Conservação do Brasil registraram 8,4 milhões de visitas durante o período de cerca de seis meses em que as atividades desses locais foram restabelecidas a partir da flexibilização das restrições impostas pela crise sanitária. O ICMBio reabriu os espaços com base na adoção de protocolos de biossegurança, os quais continuam sendo aplicados em unidades de todo o Brasil. Entre elas estão a redução da capacidade de público, a obrigatoriedade do uso de máscara e a priorização de vendas online de ingressos

A instituição de áreas protegidas em todo o mundo constitui, atualmente, uma ferramenta indispensável à proteção da natureza. Contudo, algumas unidades de conservação brasileiras enfrentam um grande desafio no manejo do uso público, porquanto é necessário conciliar objetivos historicamente divergentes: preservação da natureza em meio à permissão de atividades de visitação.

Nesse contexto, chama a atenção o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, o qual possui graves limitações para o manejo do uso público, mas defronta-se com um aumento significativo no fluxo de visitantes motivado por constantes incentivos de órgãos federais, estaduais e municipais para promover o conhecimento e reconhecimento dos seus atributos cênicos. No mesmo sentido, as comunidades que vivem no interior da unidade de conservação são impedidas por lei de permanecerem residindo no parque em questão, embora turistas e empresários tenham permissão para explorar as riquezas naturais da região.

São imprescindíveis, pois, maior investimento em recursos humanos e financeiros para realização de estudos técnicos com intuito de definir o Zoneamento Ambiental e o Plano de Manejo dessas Unidades de Conservação, conciliando o interesse turístico com a manutenção da qualidade ambiental e as aspirações das populações tradicionais lá existentes.

Fontes: ICMBio, BBC News, G1, Repositório.