Um Mar de Plásticos

Informe da organização ambientalista Fundo Mundial para a Natureza (WWF), divulgado no dia 08/02, afirma que dejetos plásticos já chegaram a todas as partes do oceano e que a contaminação afeta 88% das espécies marinhas, que trazem o material em seu organismo, incluindo animais amplamente consumidos pelo ser humano. A entidade pede esforços urgentes para criar um tratado internacional sobre plásticos.

Elaborado em colaboração com o Instituto Alfred Wegener, da Alemanha, o relatório compila dados de 2.590 estudos científicos sobre o tema, medindo o impacto do plástico e do microplástico nos oceanos.

Conforme o documento, entre 19 milhões e 23 milhões de resíduos plásticos chega ao mar anualmente. Gigantescas “ilhas de plástico”, compostas de dejetos flutuantes, foram encontradas nos oceanos Atlântico e Pacífico.

O relatório ressalta que o derivado do petróleo “alcançou todas as partes do oceano, da superfície do mar ao fundo do oceano, dos polos às costas das ilhas mais remotas, e é detectável desde no menor plâncton até a maior baleia.”

O plástico flutua pelos mares de todo o mundo. De fato, conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2018, os oceanos recebem por ano a impressionante cifra de oito milhões de toneladas de plástico.

Mas o que não imaginávamos até agora é que o plástico também fosse capaz de chegar às profundezas marinhas. Um claro exemplo: no ponto mais profundo do planeta, a Fossa das Marianas, também  conhecido como o abismo Challenger, situado a 10.928 metros de profundidade, a expedição do multimilionário norte-americano Victor Vescovo descobriu, neste mesmo ano, embalagens de balas e uma sacola plástica.

Hoje o mundo produz mais objetos de plástico do que nunca, concretamente 500 milhões de toneladas, de acordo com o Greenpeace. Muitos desses objetos são plásticos de uso único, como garrafas, sacolas, pratos, etc. Tais resíduos, ao serem descartados, podem terminar em um aterro ou, eventualmente, serem reciclados.

O problema é que os dados sobre reciclagem, segundo indica essa ONG, não são muito animadores: de todo o plástico produzido em âmbito mundial até agora, apenas 9% foi reciclado, contra 12% que foi incinerado e 79% que terminou em aterros ou diretamente no meio ambiente.

Segundo o Parlamento Europeu, em 2018 os oceanos já albergavam mais de 150 milhões de toneladas de resíduos plásticos. E as perspectivas, caso tal tendência não seja revertida, são bastante pessimistas, pois, segundo uma estimativa realizada pela Fundação Ellen MacArthur, organização benéfica especializada na economia circular, até 2050 poderia haver mais plástico do que peixe nos oceanos.

Os setores que dependem do mar sofrem as consequências. Segundo a União Europeia (UE), os danos e perdas para o setor da pesca em 2018 atingiram a cifra de 61,7 bilhões de euros. Além disso, a limpeza das costas e praias da Europa tem um custo anual que se situa entre 194 e 630 milhões de euros, segundo indica Joanna Drake, diretora-geral adjunta de meio ambiente na Comissão Europeia.

Pelo menos 2.144 espécies sofrem poluição plástica em seu habitat e algumas também acabam ingerindo o material. Esse é o caso, por exemplo, de 90% das aves marinhas e 52% das tartarugas. O WWF alerta que conteúdo plástico foi encontrado em moluscos, como mexilhões azuis e ostras, e um quinto das sardinhas enlatadas contém essas partículas.

O material se degrada em partículas cada vez mais minúsculas, até se converter em “nanoplásticos”, inferiores a um mícron (um milésimo de milímetro). “Estamos chegando a um ponto de saturação em vários lugares, o que supõe uma ameaça não somente para as espécies, mas para todo o ecossistema”, explica Eirik Lindebjerg, responsável pelas investigações sobre resíduos plásticos no WWF.

Muito além das imagens impactantes de tartarugas ou focas presas em redes, o perigo se espalha por toda a cadeia alimentar: um estudo de 2021, sobre 555 espécies de peixes, encontrou restos de plásticos em 386 delas.

Outros estudos sobre a pesca do bacalhau, um dos peixes mais comercializados, revelaram que até 30% dos espécimes do Mar do Norte tinham microplásticos no organismo. O mesmo se aplica a 17% dos arenques capturados no Mar Báltico.

Conforme a ONG, algumas das áreas marinhas mais ameaçadas são o Mar Amarelo, o Mar da China Oriental e o Mediterrâneo, que já atingiram seu limite de absorção de microplástico.

A situação é tão grave, que mesmo que a produção de plástico fosse paralisada, o volume de microplásticos duplicaria até 2050, devido aos restos já presentes no meio ambiente. O mais inquietante, porém, é que a inundação não vai parar, já que a produção de novo material duplicará até 2040 e, com isso, os resíduos nos oceanos triplicarão.

O WWF está convocando negociações para um acordo internacional sobre plásticos na reunião da ONU sobre meio ambiente programada para 28 de fevereiro a 2 de março em Nairóbi, capital do Quênia. A entidade quer um tratado que estabeleça padrões globais de produção e uma verdadeira reciclagem.

Fonte: WWF, DW, Ambiente Brasil, Ecycle, Iberdrola.

 

 

2 Comments

  1. Andreia AP.Silva Meira said:

    Jogar lixos nas praias e vias pulbicas é questão de e de educação! Primeiros os pais deve ensinar, e as escolas ,a matéria educação moral e cívica faz falta nas escolas.

    12/02/2022
  2. Geraldo Alves S. Junior said:

    Quando Amir Klink voltou da sua aventura solitária nos mares um repórter lhe perguntou sobre coisas que o haviam impressionado, ele respondeu que por todos os mares “passava por ele os MALDITOS plásticos”

    12/02/2022

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