Após anos de polêmica, chegou a notícia que ativistas e amantes de cães esperavam: o parlamento da Coreia do Sul aprovou por unanimidade um projeto de lei que proíbe o abate e venda de carne de cachorro para consumo humano.
O Parlamento da Coreia do Sul votou de forma unânime, na última terça-feira (9), a favor de um projeto de lei que proíbe a criação, o abate e a venda de cães para o consumo da carne dos animais. Isso encerra uma prática tradicional que ativistas há muito consideram embaraçosa para o país.
A Assembleia Nacional aprovou o projeto por 208 votos a 0, e a lei entrará em vigor após um período de carência de três anos, a contar da aprovação final do Presidente Yoon Suk-yeol.
A nova legislação entrará em vigor em 2027. Isso significa que agricultores e comerciantes terão tempo para se ajustarem ou encerrarem seus negócios relacionados a essa prática cruel. O governo também vai ajudar com subsídios para conseguirem novos empregos.
Segundo a agência estatal Yonhap, existem cerca de 1.150 fazendas para a criação de cães na Coreia do Sul. Além disso, 34 açougues, 219 distribuidores e aproximadamente 1.600 restaurantes vendem alimentos produzidos com carne de cachorro.
Por outro lado, a associação sul-coreana que representa a indústria de carne canina afirmou que a proibição afetará 3.500 fazendas que criam 1,5 milhão de cães, além de 3 mil restaurantes.
O debate para a criação de uma lei para banir o consumo de carne de cachorro no país vinha ganhando paraça desde 2021, quando o então presidente Moon Jae-in sugeriu a proibição.
O apoio ao projeto cresceu durante o governo do atual presidente, Yoon Suk-yeol, que adotou seis cães e oito gatos. A primeira-dama, Kim Keon Hee, também é conhecida por ser crítica ao consumo de carne canina.
Algumas tentativas de aprovar o projeto fracassaram no passado. Em novembro de 2023, um grupo de cerca de 200 criadores de cães fez um protesto perto do gabinete presidencial pedindo a revogação do projeto.
Comer carne canina, parte integrante da culinária sul-coreana, tornou-se um tabu, especialmente entre os mais jovens e urbanos.
Estima-se que até um milhão de cães eram sacrificados anualmente para o comércio, mas o consumo diminuiu drasticamente à medida que os sul-coreanos adotam animais de estimação em massa.
Matadouros, fazendas ou restaurantes que utilizam carne de cachorro não poderão abrir novos estabelecimentos.
Essa proibição representa uma mudança significativa na sociedade sul-coreana, onde a carne de cachorro é consumida há séculos.
No entanto, nos últimos anos, especialmente entre os jovens, o consumo tem diminuído graças à conscientização e aos apelos de ativistas nacionais e internacionais.
A nova legislação prevê penalidades rigorosas: recriar, vender ou abater cães para obter sua carne resultará em até três anos de prisão ou multa de 30 milhões de won (US$ 23 mil).
Mudanças na cultura
Em uma pesquisa recente do think tank Animal Welfare Awareness, Research and Education, nove em cada 10 sul-coreanos afirmaram que não consumiriam carne de cachorro no futuro.
A pressão dos ativistas dos direitos dos animais e o apoio do presidente Yoon, amante de animais, contribuíram para a mudança de atitude.
JungAh Chae, diretor-executivo da Humane Society International/Korea, comentou sobre a aprovação do projeto de lei como uma ‘história em construção’.
Ele destacou o momento crucial em que a maioria dos cidadãos rejeita o consumo de cães, marcando o fim de um capítulo sombrio na história do país.
Esforços anteriores para proibir a carne de cachorro enfrentaram forte oposição de fazendeiros, mas a nova lei prevê compensações para empresas que sairão do comércio.
Cerca de 1.100 fazendas de cães, que criam centenas de milhares de animais a cada ano, receberão apoio para abandonar tal prática.
Embora a carne canina seja geralmente consumida como uma iguaria de verão, acredita-se que a nova legislação contribuirá para uma mudança significativa nos hábitos alimentares, refletindo a crescente conscientização sobre o bem-estar animal na sociedade sul-coreana.
Marco na proteção animal
Os produtores de carne de cão existentes na Coreia do Sul serão obrigados a fornecer ao governo um plano de encerramento das suas instalações nos próximos seis meses.
O sofrimento dos milhões de cães que são abatidos para consumo humano é uma realidade triste que muitos ativistas vinham lutando para acabar.
Essa proibição marcante sinaliza uma transformação cultural que encerra uma prática que por muito tempo dividiu opiniões no país.
Com o apoio crescente da população e medidas para mitigar os impactos econômicos, a Coreia do Sul entra em um novo capítulo em sua relação com os animais, alinhando-se a padrões globais de proteção desses seres vivos.
Fontes: Olhar Digital, Agência Brasil, Multiverso, Pense Numa Notícia.
Foto: Reuters/ King Jong-Ji.