As mudanças climáticas trazem danos não apenas para o bem estar físico das pessoas, mas também têm impacto na saúde mental. E isso aparece principalmente em países em desenvolvimento, segundo revelou um novo estudo do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusets), nos EUA.
As redes sociais podem ser um bom termômetro para analisar a relação que as pessoas têm com as temperaturas. Afinal, atire a primeira pedra quem nunca usou o seu perfil para reclamar sobre o clima. Para entender como as temperaturas crescentes influenciam o humor das pessoas, os pesquisadores analisaram 1,2 bilhão de posts de 2019 nas redes sociais Weibo (muito usada na China) e X (antigo Twitter) de 157 países diferentes.
O que o estudo descobriu
Segundo o artigo, publicado na revista One Earth na semana passada, temperaturas maiores do que 35ºC estão associadas a sentimentos 25% mais negativos em países de baixa e média renda. Nos de alta renda, por outro lado, essa porcentagem é três vezes menor, e fica em 8%. Já a satisfação com o clima atingiu seu ápice em temperaturas entre 20ºC e 25ºC.
Cada um dos posts recebeu uma nota que variava de zero a um, sendo que quanto mais próximo do zero, mais negativo o sentimento. A quantidade massiva de posts pôde ser analisada a partir do processamento de linguagem natural, o que possibilitou compreender 65 idiomas. O banco de dados dos posts e das localizações foi, então, cruzado com a temperatura daquele dia na respectiva região.
Os pesquisadores também projetam uma queda de 2,3% do bem-estar emocional até 2100 em comparação com 2019, considerando que medidas serão tomadas para se adaptar ao calorão. Sem essas ações, o declínio será de 3,3%. Sob temperaturas relativamente altas, 72% dos países mostram resultados negativos no humor, e a maioria deles pertencem a grupos de baixa ou média renda.
Os efeitos do calor na saúde
“As pessoas que estão situadas em países de baixa e média renda são as mais afetadas porque têm menos recursos para fazer frente em termos individuais. E os sistemas de saúde também não têm uma resposta tão rápida a essas a esses problemas”, explica o professor de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), Everton Nunes da Silva, que não fez parte do estudo.
Ele explica que o calor excessivo traz maior irritabilidade e frustração. Além disso, aumenta a incidência de doenças como dermatite, insolação, e compromete maior parte do orçamento familiar. Esses dois fatores podem contribuir de forma indireta para o declínio da saúde mental, destaca.
Na visão do professor, o uso das redes sociais pode ser um método interessante por permitir a demonstração de insatisfação ou não com o clima de forma “mais genuína”. Por outro lado, o método deixa de lado grupos que não estão nas redes sociais mas são ainda mais vulneráveis ao calor extremo, como idosos e crianças.
O sistema de saúde precisa se preparar para mitigar o impacto das mudanças climáticas no humor das pessoas, pondera Souza. Isso pode envolver distribuição de alguns itens como protetor solar, camisa UV e chapéus. Outro ponto é estender a disponibilidade de serviços de ajuda psicossocial, como Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
A maior parte dos estudos sobre os efeitos da mudança climática tem focado em países desenvolvidos, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Mas em escala global faltam trabalhos que associam sentimentos ao calor extremo, ressalta o artigo publicado na One Earth.
Por exemplo, uma pesquisa com residentes dos Estados Unidos demonstrou, em publicação na revista Environmental Research de 2016, que temperaturas acima de 21ºC reduzem emoções positivas em comparação com temperaturas que variam entre 10ºC e 16ºC, além de aumentar fadiga, estresse e raiva. Apesar de focar apenas nos EUA, o trabalho identificou a desigualdade na mudança climática ao concluir que os sentimentos negativos atingiam com maior intensidade pessoas mais velhas e de menor escolaridade.
Outro estudo, publicado em 2018 na revista Nature, diz que o aumento de calor poderia acarretar no crescimento da incidência de suicídio no México e nos Estados Unidos. Por meio da análise de 600 milhões de posts nas redes sociais, os pesquisadores concluíram que, caso não sejam tomadas medidas contra mudanças climáticas, pode haver entre 9 e 40 mil suicídios a mais no México e nos Estados Unidos até 2050.
Fonte: Revista Galileu.
Foto: Pexels.
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