Os seres humanos estão levando o planeta para “além dos limites de funcionamento seguro”. Sete dos nove sistemas que dão suporte à vida da Terra já tiveram seus parâmetros ideais ultrapassados; um a mais do que no ano passado.
Um novo relatório revela que o nível de acidificação dos oceanos – quando o pH da água está muito baixo por causa da absorção excessiva de CO2 – alcançou uma zona de perigo pela primeira vez na história do planeta.
O relatório “2025 Planetary Health Check”, publicado pelo Laboratório Científico de Limites Planetários, do Instituto Potsdam de Pesquisa Climática, alerta que o uso contínuo de combustível fóssil, o desmatamento de florestas e as mudanças nos usos da terra estão deteriorando a capacidade dos oceanos de funcionar como um “estabilizador da Terra”.
“Os oceanos estão se tornando mais ácidos, os níveis de oxigênio estão em declínio e as ondas de calor marinho estão aumentando”, afirmou Levke Caesar, do Laboratório de Limites Planetários, um dos autores do relatório. “Isso está aumentando a pressão sobre um sistema vital para a estabilização das condições do planeta Terra. Essa intensificação na acidificação é provocada, primordialmente, pelas emissões derivadas dos combustíveis fósseis, e, junto com o declínio do oxigênio, afeta todo o sistema, das reservas pesqueiras na costa ao oceano aberto.”
Segundo Caesar, a acidificação dos oceanos impacta a segurança alimentar, a estabilidade climática global e a saúde humana.
Desde o início da era industrial, a acidez dos oceanos teve um aumento de 30% a 40%. Isso já provoca, por exemplo, erosão em conchas de alguns pequenos moluscos. Embora isso possa não parecer muito importante, esses animais são alimento para muitas outras espécies marinhas e, segundo especialistas, seu declínio pode impactar diversas cadeias alimentares.
“Os oceanos formam o sistema de suporte de vida do planeta”, afirmou a oceanógrafa Sylvia Earle. “Sem oceano saudável, não há Terra saudável.”
A oceanógrafa explicou: “Por bilhões de anos, o oceano tem sido um grande estabilizador da Terra, gerando oxigênio, equilibrando o clima e dando suporte à diversidade da vida. A acidificação é uma luz vermelha piscando no painel da estabilidade terrestre. Ignore, e corremos o risco de ver o colapso das bases do nosso mundo. Proteja o oceano e protegeremos a nós mesmos.”
O relatório dos Limites Planetários foi lançado pela primeira vez em 2009 para o monitoramento do sistema terrestre. Cientistas criaram nove parâmetros que devem ser mantidos dentro de determinados limites para “manter a humanidade em segurança e o mundo natural resiliente”. Os cientistas monitoram anualmente esses parâmetros para acompanhar as condições do planeta.
Entre esses parâmetros estão: mudanças climáticas (a alteração das temperaturas da Terra e padrões climáticos), a integridade da biosfera (a saúde, funcionamento e resiliência dos sistemas vivos terrestres), mudanças de uso da terra (por atividades humanas como a agricultura), uso de água doce, fluxos biogeoquímicos, novas entidades (como substâncias químicas sintéticas ou microplásticos), acidificação dos oceanos, o estado da camada de ozônio e poluição do ar.
De acordo com o último relatório, apenas dois desses parâmetros ainda se encontram dentro de limites seguros: a camada de ozônio e a poluição do ar.
“Estamos testemunhando um declínio generalizado da saúde do nosso planeta”, afirmou o diretor do Instituto Postdam de Pesquisa Climática, Johan Rockstrom. “A redução da poluição do ar e a regeneração da camada de ozônio mostram que é possível mudar a direção de um movimento global. Mesmo quando o diagnóstico é muito ruim, a janela da cura ainda está aberta. Falhar não é inevitável; falhar é uma escolha. Uma escolha que pode e deve ser evitada.”
Fonte: Estadão.
Foto: Martin Hablutzel/Adobe Stock.
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