O Brasil perdeu 69 mil hectares de suas praias e dunas nos últimos 35 anos – o que representa uma redução de 15% no total de áreas compostas por areia.
Os dados do estudo inédito feito pelo MapBiomas foram divulgados no final do mês de agosto, durante um webinar nas redes sociais. O levantamento foi produzido a partir de um mapeamento de imagens de satélite entre 1985 e 2020.
Segundo o levantamento, o Brasil contava com 451 mil hectares de dunas e praias há 36 anos. No final do período analisado — 2020 –, o país contava com 382 mil hectares arenosos.
Como o mar engole a praia?
A formação da faixa de areia depende de um equilíbrio entre o que o mar leva e o que devolve. As ondas carregam grãos de areia suspensos na água e os depositam na beira da praia, formando bancos de areia.
Mesmo que parte da areia seja levada de volta pelo mar, esse ciclo costuma ser estável. Mas quando há construções demais na orla, esse equilíbrio se rompe.
Prédios, calçadões e estruturas construídas muito perto do mar atrapalham a formação dos bancos de areia. Sem esse “estoque” natural, a praia perde a capacidade de se recuperar — e a faixa de areia vai encolhendo.
O avanço do mar coloca vidas em risco
A erosão não é apenas um problema estético ou turístico. A faixa de areia atua como barreira natural contra o avanço do oceano. Quando ela desaparece, casas, comércios e vidas inteiras ficam em risco.
Um dos casos mais emblemáticos é o de Atafona, no litoral do Rio de Janeiro. A cidade já perdeu ruas inteiras para o mar e foi listada pela ONU como uma das 31 regiões do mundo mais ameaçadas pela elevação do nível do mar.
Entre 1990 e 2020, o oceano subiu 13 centímetros na região — e a previsão é que suba mais 21 centímetros até 2050, segundo os dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Mas Atafona não é a única. Diversas outras praias brasileiras também estão encolhendo, e o fenômeno se repete em pontos do litoral Norte, Nordeste e Sudeste.
O Rio de Janeiro é o estado que mais perdeu esse tipo de superfície no período, com uma redução de 49% de sua área. Em seguida aparece a Paraíba, com perda de 44%.
Atualmente, os estados com maior área de praias, dunas e areais são Maranhão e Rio Grande do Sul, que juntos abrigam mais da metade desses locais, sendo que, dos dez municípios com maior área de praias, dunas e areais, três ficam nos Lençóis Maranhenses.
No caso do Balneário de Camboriú (SC) onde, menos de dois anos após a conclusão das obras de alargamento da Praia Central, um trecho de 70 metros foi “engolido” pelo mar. Segundo levantamento do MapBiomas, a perda das faixas de areia em todo o país foi observada uma consequente proliferação de obras de proteção costeira em diversos pontos do país.
Os projetos avançam à medida que cientistas alertam para os efeitos das mudanças climáticas. Projetos de alargamento de areia já foram feitos, por exemplo, na Praia de Camburi, em Vitória (ES), Praia de Canavieiras (SC) Praia Central de Balneário Piçarras (SC), Praia de Jaboatão dos Guararapes (PE), Praia dos Diários e Praia do Náutico (CE), Praia de Ponta Negra (Natal/RN)
Um exemplo inverso é João Pessoa, na Paraíba, considerado uma referência ambiental por ter, ao longo dos anos, preservado suas características originais e suas dunas, o que a livrou de intervenções mais drásticas.
O estudo indica que a diminuição das faixas de praias e dunas pode ser explicada pela forte pressão imobiliária nesses locais. Há, ainda, a baixa proteção: apenas 40% desse tipo de bioma está protegido em alguma unidade de conservação.
A preservação das praias e dunas é essencial para o controle da erosão costeira e preservação da faixa litorânea e sua biodiversidade, segundo os pesquisadores do MapBiomas.
A praia e a duna normalmente protegem os manguezais das ações das ondas e criam um ambiente onde a lama pode ser depositada e colonizada pela vegetação de mangue e pelas espécies nativas.
“Quando se ocupa e se expande sob a borda das dunas, ou se retira a vegetação original, estamos fragilizando esse ecossistema costeiro e, eventualmente, acelerando suas modificações. Ganhar ou perder não é necessariamente positivo ou negativo; mas quando as mudanças ocorreram de forma rápida demais, o ser humano não tem como se adaptar a elas; e isso pode afetar comunidades pesqueiras, turismo e outros mais”, disse o coordenador técnico do mapeamento de Zona Costeira do MapBiomas, Cesar Diniz.
Fontes: g1, UOL, Exame.
Foto: Leandro Fonseca/Exame.
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