A Caatinga tornou-se peça central na transição energética brasileira. Em 2024, o bioma concentrou 62% da área total de usinas fotovoltaicas do país, com 21,8 mil de seus hectares já ocupados por essas instalações. O avanço, no entanto, carrega uma contradição: enquanto contribui para ampliar a matriz limpa, pressiona ainda mais um ecossistema que já perdeu 14% de sua cobertura natural – ou 9,25 milhões de hectares – nas últimas quatro décadas.
Esse diagnóstico faz parte de um levantamento da rede MapBiomas sobre as mudanças ocorridas na cobertura e uso da terra na Caatinga feito a partir da Coleção 10 de mapas (mapas anuais de cobertura e uso da terra cobrindo todo o território brasileiro entre 1985 e 2024).
O relatório revela que o bioma, que ocupa uma área de 86,2 milhões de hectares, ou 10,1 % do território do Brasil, tinha, em 2024, quase dois terços (59%, ou 51,3 milhões de hectares) cobertos por vegetação nativa, predominantemente formações savânicas (55,9%). Quando contabilizamos também corpos d’água, praia, duna e areal, esse número sobe para 52,9 milhões de hectares (61%).
De 1985 até o ano passado, entre os tipos de áreas naturais, a formação savânica foi a mais afetada, perdendo 8,9 milhões de hectares (15,7%).
A área antrópica, ou seja, que foi alterada ou transformada pela ação humana, aumentou 39% no período analisado, somando 9,2 milhões de hectares de expansão. Mais de um terço (37%, ou 32,3 milhões de hectares) do bioma é ocupado por áreas de uso agropecuário. A pastagem é o principal uso antrópico, respondendo por 24,7% do total e expandindo 106% (11 milhões de hectares) nos últimos 39 anos.
Proporcionalmente, a agricultura foi o uso da terra que mais cresceu, com um aumento de 1636% (1,7 milhão de hectares) no mesmo período, de acordo com o MapBiomas. Entre os usos agrícolas, as lavouras temporárias predominam, com 1,4 milhão de hectares (74%). As lavouras perenes ocupam 483 mil hectares (26%).
Essa expansão se deu em sua maioria sobre a formação savânica, que também é a classe de cobertura natural mais afetada por queimadas anualmente, com uma média de 78% das ocorrências. Entre 1985 e 2024, 11,4 milhões de hectares da Caatinga foram queimados, uma área maior que Portugal.
Ainda no período, o bioma perdeu 66 mil hectares (21%) de superfície de águas naturais. Sua superfície de água está predominantemente em hidrelétricas, que ocupam cerca de 390 mil hectares (42%), majoritariamente na bacia hidrográfica do rio São Francisco, com 96% (375 mil ha). Os reservatórios correspondem a 32% da área de superfície de água no bioma (297 mil hectares).
Todos os estados da Caatinga registraram redução de áreas naturais, e 86% (1042) dos municípios apresentaram perda de vegetação nativa. Apesar disso, 55% (670) municípios possuem mais de 50% de vegetação nativa. Os estados com maior proporção de áreas naturais em 2024 foram Piauí (82%), Ceará (68%), Pernambuco (60%), Bahia (58%) e Paraíba (56%). E, os com menor, Minas Gerais (50%), Rio Grande do Norte (50%), Alagoas (27%) e Sergipe (24%).
O levantamento mostra ainda que, em 2024,10% do território da Caatinga estava protegido por Unidades de Conservação (8,2 milhões de hectares). Três em cada quatro hectares de UCs são de Uso Sustentável (6,1 milhões de hectares). Nelas, houve 11,8% de redução da área de vegetação nativa entre 1985 e 2024 (-563 mil hectares).
Fonte: Um Só Planeta.
Foto: Divulgação