As crianças são o futuro de uma nação. Esse futuro, entretanto, depende do contexto em que a criança se desenvolve e das vulnerabilidades às quais está exposta.
A gestação e os primeiros anos de vida são fundamentais para um desenvolvimento saudável, cujos efeitos são sentidos em todo o ciclo de vida. Por exemplo, quanto mais experiências adversas na infância, maior a probabilidade de problemas de saúde na vida adulta, incluindo doenças cardíacas, diabetes e depressão.
No Brasil, uma criança nascida hoje alcançaria aos 18 anos de idade uma produtividade esperada de 55%, considerando que as condições atuais de educação e saúde permaneceriam inalteradas. Ou seja, 45% do potencial seria perdido por deficiências na educação e saúde.
O cenário pode piorar devido aos impactos dos eventos climáticos extremos. No Brasil, 40 milhões de crianças e adolescentes enfrentam ao menos um risco climático.
Esses eventos podem aumentar a mortalidade infantil e materna (resultando em orfandade), além de doenças infecciosas, desnutrição, problemas de saúde mental e doenças respiratórias. Também podem desencadear o deslocamento populacional, aumentando a exposição a doenças, condições precárias de moradia, insegurança e violência.
A taxa de evasão escolar entre crianças deslocadas devido a eventos climáticos extremos pode chegar a 78%, com uma perda média de 1,5 ano letivo por estudante. A adaptação a novos contextos escolares torna-se um obstáculo adicional, prejudicando ainda mais o desenvolvimento cognitivo das crianças e comprometendo a formação de capital humano em toda uma geração.
Eventos extremos podem ainda comprometer a funcionalidade dos sistemas de saúde, educação e assistência social, com a destruição de infraestrutura, escassez de profissionais, interrupção de serviços e restrição do acesso.
Crianças em regiões vulneráveis enfrentam desafios adicionais devido à fragilidade (ou inexistência) de políticas de adaptação e resiliência climática, da precariedade dos serviços de saúde, educação, proteção social, saneamento e moradia.
Por exemplo, em contextos urbanos carentes de áreas verdes e com habitação precária, crianças enfrentam ilhas de calor com temperaturas até 5°C superiores às de áreas arborizadas, aumentando os riscos de desidratação, doenças respiratórias e estresse térmico, especialmente em bebês.
Dados recém-divulgados do Censo Escolar de 2024 mostram que apenas 41% das escolas municipais de educação infantil (creche e pré-escola) tinham um parque e apenas um terço possuía área verde.
Um estudo recente mostra que, na América Latina, um evento extremo que reduza a cobertura dos serviços de atenção primária a saúde em 50% pode resultar em até 157 mil mortes (natimortos, mortes neonatais e infantis, mortes maternas e mortes por doenças não transmissíveis) e em até 14,1 milhões de gravidezes indesejadas.
A expectativa é que a frequência e intensidade de eventos extremos aumente no futuro. Nesse cenário, estima-se que em 2050, comparado com 2000, a exposição de crianças a ondas de calor e inundações aumente 8 e 3,1 vezes, respectivamente.
Colocar crianças como prioridade na pauta climática e ambiental é urgente. Acima de tudo, é um investimento no futuro.
Fonte: Folha SP.
Foto: Eduardo Anizelli – 12.dez.2024/Folhapress.
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