Quais doenças podem crescer com o aquecimento global?

O aumento das temperaturas não provoca apenas desconforto. Ele representa uma ameaça concreta à saúde pública. Pesquisas mostram que ondas de calor já estão associadas ao crescimento de doenças respiratórias, cardiovasculares, neurológicas, renais, além do avanço de arboviroses como a dengue. O calor, literalmente, adoece.

Isso ocorre porque o corpo humano precisa fazer um esforço extra para manter a temperatura interna estável. Em dias muito quentes, os batimentos cardíacos aceleram, a pressão pode subir e a desidratação se torna mais frequente, sobrecarregando o sistema circulatório. O impacto é especialmente grave para quem já vive com doenças crônicas como diabetes, hipertensão ou Alzheimer.

Estudos recentes mostram que esse impacto já é visível no Brasil. Entre 2000 e 2018, quase 50 mil mortes foram associadas a extremos de calor, segundo levantamento da Fiocruz e da Universidade de Lisboa. No Rio de Janeiro, uma análise da Secretaria Municipal de Saúde apontou que a mortalidade de idosos e pessoas com comorbidades aumentou nos dias mais quentes.

Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência parceira da Organização das Nações Unidas (ONU), este ano é o mais quente em 174 anos. O marco foi atingido pelo 1,4°C acima da média na temperatura global. As altas temperaturas este ano ocorreram pelos três principais gases do efeito estufa, dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, que obteve níveis históricos, afirma a OMM.

O calor extremo tem sido causa, inclusive de muitas mortes pelo mundo, segundo a professora do curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP, Maria Gorete Teixeira Morais. Ela cita a pesquisa Impacto em nível de cidade de temperaturas extremas e mortalidade na América Latina (City-level impact of extreme temperatures and mortality in Latin America), publicada pela revista Nature Medicine, que aponta que cerca de 6% das mortes em cidades da América Latina são causadas pela temperatura extrema.

A conclusão foi que as temperaturas extremas estavam envolvidas em doenças cardiovasculares e respiratórias, especialmente no grupo de risco, que são crianças, idosos e adultos que possuem doenças crônicas. A professora adianta que a temperatura vai estar relacionada ao aumento de 5,7% nas mortes e, ao mesmo tempo, cerca de 10% dessas mortes serão por

Além das doenças diretamente ligadas ao calor, o aquecimento global também estimula o avanço de vírus transmitidos por vetores. O mosquito da dengue, por exemplo, se beneficia de temperaturas altas e maior umidade. Em 2024, o ano mais quente da história do país, o Brasil bateu o recorde de casos: mais de 6 milhões de infecções por dengue foram registradas.

Segundo a revista científica The Lancet, o risco de transmissão da dengue hoje é 11% maior do que há uma década. E o problema não se restringe aos trópicos. Mosquitos transmissores da doença já avançam para regiões temperadas: só em 2023, foram mais de cem casos autóctones de dengue registrados em países europeus como França, Espanha e Itália.

Diante desse cenário, especialistas alertam que a crise climática não é apenas ambiental — é uma crise de saúde pública. Os efeitos do calor extremo, da mudança no regime de chuvas e da proliferação de vetores já são mensuráveis. Preservar o clima, portanto, não é só proteger o planeta: é proteger vidas.

. Estudos mostram que o calor extremo intensifica problemas crônicos, como doenças cardiovasculares, respiratórias e neurológicas, além de favorecer a proliferação de arboviroses como a dengue.

Doenças agravadas pelo calor:
Doenças cardiovasculares:

O calor sobrecarrega o sistema cardiovascular, aumentando o risco de coágulos, AVC e outras complicações, especialmente em idosos e pessoas com doenças pré-existentes.

Doenças respiratórias:

O calor pode desencadear crises de asma e outras doenças respiratórias, além de aumentar a incidência de infecções.

Doenças neurológicas:

O calor pode agravar condições como Alzheimer e outras doenças cerebrais, além de afetar a memória e a atenção.

Doenças renais:

O calor e a desidratação podem prejudicar o funcionamento dos rins, especialmente em pessoas com doenças renais preexistentes.

Arboviroses (dengue, Zika, Chikungunya):

O aumento da temperatura acelera o ciclo de vida dos mosquitos transmissores, aumentando o risco de contaminação.

Doenças mentais:

O calor extremo pode levar a irritabilidade, ansiedade, depressão e até aumento de suicídios.

Impacto em pessoas com doenças crônicas:

O calor extremo é especialmente perigoso para pessoas com doenças crônicas como diabetes, hipertensão, doenças cardíacas e Alzheimer, pois o corpo já está debilitado e o calor pode descompensar essas condições.

Recomendações:

Manter-se hidratado, bebendo água regularmente, mesmo sem sentir sede.

Usar roupas leves e claras, proteger-se do sol com chapéu e protetor solar.

Evitar atividades físicas intensas em locais abertos e sob sol forte.

Buscar ambientes com ar condicionado ou ventilação adequada.

Consultar um médico para ajustes no tratamento de doenças crônicas em períodos de calor intenso.

Fontes: g1, Jornal da USP.

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

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