Ataques de onças a seres humanos são comuns? Entenda

Jorge Avalo, de 60 anos, foi encontrado às margens do Rio Miranda, no Pantanal, após ser atacado por uma onça da região. O felino de grande porte acabou sendo capturado e realocado para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres, em Campo Grande.

O caso recente envolvendo um felino de grande porte no Mato Grosso do Sul criou uma alerta na população próxima de que a ocorrência pudesse se tornar comum. Porém, Ambientalistas e a Polícia Ambiental (PMA-MS) explicaram ao longo dos últimos dias que o evento não é comum e que sua repetição deve ser rara.

A PMA-MS explicou que encontros perigosos de onças com humanos são raros e acontecem quando o animal se sente ameaçado, durante o período reprodutivo ou se há escassez de alimentos.

A equipe que investiga o caso identificou dois fatores principais que podem ter atiçado o felino: o caseiro manipulava mel de abelhas constantemente e o cheiro pode ter atraído o bicho e a possibilidade de existir uma ceva no local.

A segunda hipótese é fortemente criticada pelas autoridades ambientais, já que a técnica pode atrair de forma nociva animais silvestres para que eles sejam observados por turistas – o instrumento pode desestabilizar a fauna local e causar mais casos como este.

Ceva: prática ‘comum’ coloca ecossistema em risco

A prática de ceva é apontada como “comum” na região em que o caseiro Jorge Ávalo, de 60 anos, foi encontrado morto após ser atacado por uma onça, no Pantanal de Aquidauana (MS). Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que a ação coloca em risco todo o ecossistema.

O coordenador do Programa de Conservação da Panthera no Brasil, Fernando Tortato, alerta que a prática da ceva pode aumentar o risco de ataques, ao fazer com que animais silvestres percam o medo natural do ser humano e passem a associá-lo à oferta de alimento — comportamento que pode ter causado o ataque ao pantaneiro Jorge.

“Ao condicionar o animal à presença humana, ele perde esse medo natural que uma onça tem do ser humano, e isso não deve ser encarado como normal. E o pior dessa questão da ceva é que ela passa a associar o ser humano com alimento. Então, além de você condicionar o animal a ficar transitando ambientes do homem de maneira tranquila, ele também condiciona com a alimentação”.

A morte de Jorge pelo ataque do felino foi confirmada pela Polícia Militar Ambiental (PMA), após partes do corpo da vítima serem encontradas ao lado de pegadas do animal, na beira do rio. Dias depois do ataque, uma onça-pintada foi capturada pela PMA. A ação foi coordenada pelo governo de Mato Grosso do Sul.

Preocupação com a biodiversidade local

O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) também tem atuado em prol da proteção da espécie. Com o andamento do caso, muitas instituições se preocupam com a possibilidade de uma onda de hostilidades contra as onças ser desencadeada.

“A onça-pintada é símbolo da biodiversidade brasileira e a morte de um indivíduo da espécie pode gerar diferentes prejuízos para a conservação no médio e longo prazo”, afirmou a IHP em nota.

O biólogo Gustavo Figueiroa, membro da ONG SOS Pantanal, utilizou seu perfil nas redes sociais para reforçar que as onças-pintadas não devem ser vistas como vilãs.

“A onça-pintada não é por natureza um animal perigoso para o ser humano. É um felino reservado que evita o contato com as pessoas e não representa ameaça direta quando não há uma provocação ou interferência humana”, declarou em uma publicação.

Figueiroa corroborou com o apontamento da Polícia Ambiental do Mato Grosso do Sul de que ataques que não tenham sido motivados pelo comportamento humano são muito raros – ele conta que encontrou seis vezes com as onças e nunca teve problemas já que em todos os eventos agiu da forma correta.

Fontes: Revista Planeta, g1.

Foto: Jami Tarris/Getty Images.