Além da destruição de vegetação nativa, ocupação desenfreada do bioma aumenta desertificação, que já atinge mais de 10% de seu território, afirma presidente do IBAMA.
A Caatinga é o único dos 6 biomas do território brasileiro que é 100% nacional. Mas, apesar disso, historicamente recebeu pouca atenção de políticas públicas de preservação. E isso se reflete tanto no que se prevê para o bioma no futuro, como efeito das mudanças climáticas, mas principalmente em seu presente.
Estudos apontaram que a crise climática pode extinguir 90% dos mamíferos típicos da Caatinga e provocar perdas significativas na flora em 99% do bioma até 2060. Mas os números atuais já comprovam o encolhimento substancial de seu tamanho e impõem a urgência de ações para sua proteção.
Já foram perdidos 34 milhões de hectares – área equivalente ao estado de Goiás – dos 82,6 milhões de hectares da Caatinga, 40% de seu território. O alerta foi dado pelo presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, em um seminário técnico-científico sobre o bioma, informam Agência Brasil, UOL, Brasil 247, SBT e O Povo.
Agostinho destacou a necessidade de políticas específicas para o bioma, que tem características peculiares, como o alto grau de espécies exclusivas, mas que foram impactadas pela atividade humana. “A caatinga tem 60% de área de vegetação nativa ocupada, das quais boa parte já passou por processos de antropização seguidos, como corte raso, queimas reiteradas, extração seletiva de vegetação e animais e introdução de espécies exóticas”, explicou.
Essa ocupação provoca efeitos perversos. Um deles é a desertificação, que atinge mais de 10% do bioma, na avaliação do IBAMA, ou 8%, na avaliação do Laboratório de Processamento de Imagens de Satélite (LAPIS) da Universidade Federal de Alagoas .
Empreendimentos de energia renovável, como usinas solares e parques eólicos, têm contribuído para a devastação de milhares de hectares de vegetação nativa na Caatinga, especialmente nos estados da Bahia, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco e Piauí. A Bahia é o estado do Nordeste que mais perde área de Caatinga para usinas solares.
Em 2022, a energia renovável foi responsável pelo desmatamento de mais de 4 mil hectares de Caatinga. Entre 2019 e 2023, o desmatamento para esses projetos aumentou quase dez vezes.
As áreas mais afetadas estão concentradas ao longo do Vale do Rio São Francisco e no interior dos estados do Nordeste, onde há grande incidência solar e ventos favoráveis para a geração de energia.
Cerca de 62% das usinas fotovoltaicas do Brasil estão localizadas na Caatinga, o que demonstra a pressão do setor sobre este bioma exclusivamente brasileiro.
Principais Impactos Ambientais
A implantação desses empreendimentos causa diversos impactos negativos:
Supressão da Vegetação: A terraplanagem e a construção de infraestruturas (como estradas de acesso e bases para aerogeradores/painéis solares) exigem a remoção completa da vegetação nativa, o que compromete o habitat de diversas espécies endêmicas.
Risco de Desertificação: O desmatamento acentuado agrava a degradação do solo e aumenta a vulnerabilidade do bioma ao processo de desertificação, um problema já crítico na região devido às mudanças climáticas.
Impacto na Biodiversidade: A destruição do habitat natural coloca em risco a fauna e a flora locais, incluindo espécies endêmicas da Caatinga.
Conflitos Sociais: Em alguns casos, a instalação de grandes complexos energéticos tem gerado conflitos com comunidades tradicionais, como os quilombolas, que alegam não terem sido devidamente consultadas sobre o uso do território.
Embora a energia renovável seja crucial para a transição energética do país, a forma como os projetos estão sendo implementados, muitas vezes sem licenciamento ambiental adequado ou em áreas de vegetação nativa, tem gerado preocupação entre ambientalistas e comunidades locais.
Fonte: Agência Brasil, Clima Info.
Foto: © Gabriel Carvalho/Setur-Ba.


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