Microplásticos afetam fotossíntese das plantas e ameaçam a produção global de alimentos

Microplásticos estão flutuando no ar ao nosso redor, percorrendo rios e córregos e se infiltrando profundamente nos solos. E agora um novo estudo sugere que todas essas pequenas partículas de plástico também estão prejudicando o crescimento das plantas.

Um artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences em 10 de março apontou que as minúsculas partículas de plástico podem estar reduzindo as taxas de fotossíntese globalmente.

Os cientistas estimaram que os microplásticos seja responsáveis por uma redução de 7% a 12% na fotossíntese em plantas e algas em todo o mundo. Essa redução na fotossíntese, alertaram os pesquisadores, também pode impactar grandes culturas das quais os humanos dependem, como trigo, milho e arroz.

Os pesquisadores, liderados por Huan Zhong, professor da Universidade de Nanquim, na China, estimaram que entre 4% e 14% das safras mundiais de trigo, arroz e milho já estão sendo perdidas por conta disso. E no futuro poderá ser ainda pior.

“A humanidade tem se esforçado para aumentar a produção de alimentos para alimentar uma população cada vez maior [mas] esses esforços contínuos agora estão sendo prejudicados pela poluição plástica”, disse a equipe responsável pelo trabalho, segundo o The Guardian. “As descobertas ressaltam a urgência [de cortar a poluição] para proteger o suprimento global de alimentos diante da crescente crise do plástico.”

Em 2022, cerca de 700 milhões de indivíduos foram afetadas pela fome no mundo. A poluição por microplásticos, de acordo com a análise, poderia aumentar esse número em 400 milhões nas próximas duas décadas.

Microplásticos são pequenos pedaços de plástico adicionados intencionalmente a bens de consumo ou que são subprodutos de plásticos maiores durante seu processo de decomposição. Nas plantações, eles dificultam a absorção de luz pelas plantas e danificam o solo.

Além disso, quando absorvidos pelas plantas, podem bloquear os canais de nutrientes e água, induzir moléculas instáveis que prejudicam as células e liberar produtos químicos tóxicos, o que pode reduzir o nível da clorofila.

Os resultados mostraram que os microplásticos reduziram a fotossíntese de plantas terrestres em cerca de 12% e de algas marinhas em cerca de 7%. Nos oceanos, onde essas partículas podem revestir algas marinhas, a perda de peixes e frutos do mar foi estimada entre 1 milhão e 24 milhões de toneladas por ano, cerca de 7% do total e proteína suficiente para alimentar dezenas de milhões de pessoas.

“É importante ressaltar que esses efeitos adversos têm grande probabilidade de se estender da segurança alimentar à saúde planetária”, eles afirmam. Isso porque a fotossíntese reduzida devido aos microplásticos também pode estar diminuindo a absorção de CO2 pelas enormes florações de fitoplâncton nos oceanos da Terra.

“Certamente é muito alarmante. Eles estão dizendo que os microplásticos estão tendo esse efeito muito dramático nas culturas e na produtividade”, afirmou Mary Beth Kirkham, professora de agronomia na Kansas State University, que não participou do artigo.

Os cientistas ainda estão trabalhando para entender como os microplásticos —definidos como pedaços de plástico com menos de 5 milímetros de tamanho, ou aproximadamente do tamanho de uma borracha de lápis— estão afetando os ecossistemas ao redor do mundo. No entanto, os pesquisadores dizem que os pequenos fragmentos podem estar chegando às culturas e terras agrícolas.

Pequenos pedaços de plástico foram encontrados na maioria dos produtos alimentícios, de hambúrgueres a frutos do mar, e um estudo estimou que só na Europa, de 63 mil a 430 mil toneladas de plásticos provavelmente poluem terras agrícolas através do lodo de esgoto usado como fertilizante.

Mas não houve muitos estudos sobre como os microplásticos afetam o crescimento das plantas. No novo artigo, cientistas da Universidade de Nanjing na China e outros pesquisadores ao redor do mundo criaram um banco de dados de respostas das plantas aos microplásticos a partir de mais de 3 mil observações do impacto dos microplásticos nas plantas, retiradas de 157 estudos. Esses estudos encontraram diminuições “fortes e consistentes” no conteúdo total de clorofila e na clorofila-a, ambos marcadores de fotossíntese.

Eles então usaram modelagem e aprendizado de máquina para extrapolar essas descobertas para culturas ao redor do mundo. Os cientistas estimaram que os microplásticos custam ao mundo cerca de 60 milhões de toneladas de arroz, 76 milhões de toneladas de trigo e 109 milhões de toneladas de milho a cada ano —ou cerca de 9,6% dos rendimentos globais de culturas.

Ainda assim, os autores do artigo alertam que as estimativas são preliminares. “Atualmente, não há motivo para alarme excessivo”, disse Baoshan Xing, professor de agricultura na Universidade de Massachusetts em Amherst, em um e-mail. A pesquisa atual, ele observou, é baseada principalmente em descobertas de experimentos de laboratório, não em estudos de campo.

Os rendimentos das culturas têm aumentado há muitos anos. Os rendimentos de milho, por exemplo, aumentaram 47% de 1981 a 2010. Os rendimentos de soja aumentaram aproximadamente na mesma quantidade. Se os microplásticos estão interferindo na fotossíntese das principais culturas, isso significa que esses rendimentos poderiam ter sido ainda maiores em um mundo sem microplásticos no solo, na água e no ar.

Estudos em pequena escala descobriram que as plantas mudam quando expostas aos pequenos fragmentos de plástico. Em um dos estudos de Kirkham, ela comparou plantas de trigo expostas ao cádmio — um metal pesado tóxico — e aquelas expostas tanto ao cádmio quanto aos microplásticos.

As plantas expostas aos microplásticos absorveram 1,5 vez mais cádmio do que aquelas sem, indicando que os microplásticos provavelmente estavam absorvendo o cádmio e transportando-o para o trigo.

“Embora essas previsões possam ser refinadas à medida que novos dados se tornam disponíveis, está claro, a partir do corpo substancial de evidências já disponíveis, que precisamos começar a buscar soluções e essa é uma área em que mais evidências são criticamente necessárias para garantir que quaisquer intervenções não resultem em consequências não intencionais”, ele enfatizou.

Ainda assim, garantiu que o novo trabalho é mais um suporte para um tratado global sobre poluição plástica, que está em negociação. “Este artigo acrescenta-se a esse conjunto de evidências que apontam claramente para a necessidade de ação. A oportunidade para tal ação está à mão por meio do Tratado Global do Plástico da ONU, que está em negociação. Garantir que o tratado aborde a poluição por microplásticos é de fundamental importância”, finalizou.

Fontes: Folha SP, Washington Post, Um Só Planeta.

Foto: Jonathan Newton/The Washington Post.

Seja o primeiro

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *