A extração excessiva de água subterrânea no Golfo Pérsico do Oriente Médio está provocando uma subsidência acelerada do solo em todo o território do Irã, colocando cidades inteiras em risco de danos estruturais e escassez de recursos básicos. Segundo uma pesquisa publicada em agosto no Journal of Geophysical Research: Solid Earth, mais de 31 mil km² já apresentam movimentos descendentes em uma velocidade de 10 mm/ano. Em certas áreas, esse desnível supera os 30 cm anuais.
É o caso da cidade de Rafsanjan, no centro do país. Por lá, estima-se que o solo tenha cedido mais de 34 centímetros por ano. “Pode não parecer muito a curto prazo, mas, se o processo continuar a esse ritmo, o terreno pode afundar de 3 a 4 metros em uma década. É realmente grave”, indica Jessica Payne, doutoranda da Universidade de Leeds, no Reino Unido, e autora principal do estudo, ao site Live Science, que usou dados dos satélites da Agência Espacial Europeia para mapear as mudanças no nível do solo no Irã entre 2014 e 2022.
Motores do colapso
Cerca de 60% do abastecimento hídrico do Irã depende de aquíferos subterrâneos. Porém, a combinação de uma seca persistente e da agricultura intensiva — especialmente no cultivo de pistache — está esgotando essas reservas em ritmo insustentável.
De acordo com Payne, 77% das áreas que afundam a mais de 10 mm/ano estão diretamente associadas às regiões agrícolas. Em Bardaskan, no norte do país, por exemplo, a subsidência já afeta 1.110 km², um crescimento de 40% em relação a medições anteriores, publicadas em 2008 no Geophysical Journal International.
Para os pesquisadores, o aspecto mais alarmante do fenômeno é que a maior parte da subsidência é irreversível. Payne compara os aquíferos a um “balde de areia e lama” sustentado pela água. Quando essa água é retirada, as partículas se comprimem e o solo desce de forma permanente, sem chance de voltar ao nível original, mesmo que volte a chover.
As consequências vão além da perda da capacidade de armazenamento de água. Declives acentuados criam fissuras e instabilidade estrutural, danificando edifícios, estradas e ferrovias. Em Karaj, cidade próxima a Teerã, mais de 23 mil moradores já vivem em áreas classificadas como de alto risco.
Impactos urbanos e sociais
Cidades densamente povoadas como Teerã, Isfahan e Shiraz enfrentam riscos crescentes. Payne afirma que tem se tornado comum ouvir relatos de prédios abandonados por causa das deformações no solo. A subsidência também compromete diretamente a segurança alimentar, já que a agricultura depende da irrigação feita com as mesmas águas subterrâneas em exaustão.
Dessa forma, o colapso dos aquíferos representa uma ameaça dupla: compromete a infraestrutura urbana e reduz a resiliência hídrica em um país que já sofre com estiagens severas. Uma vez compactadas, as camadas subterrâneas perdem para sempre sua capacidade de armazenar água.
O Irã pode ser hoje o caso mais dramático, mas, segundo os especialistas, a subsidência ameaça cidades em diversos continentes. E, portanto, serve como um lembrete de que a forma como os países lidam com seus recursos pode definir não apenas sua segurança hídrica, mas também a estabilidade física de seu território.
Fontes: Revista Galileu, CNN.
Foto: Getty Images.
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