Antes de mais nada, a explicação sobre o que é a água de lastro usada por todos os navios. Pois bem, quando um navio se dirige ao mar aberto, a água de lastro dá estabilidade à embarcação, bem como capacidade de manobrar.
O problema acontece quando ela é normalmente descarregada na chegada ao próximo porto, no caso de embarque de carga. Contudo, quando a água é retirada de um local, significa também que organismos microscópicos vão parar no tanque que por sua vez, ao ser descarregado, introduz espécies invasivas, um dos grandes problemas ambientais.
Água de lastro e biodiversidade
A água de lastro é particularmente negativa para a biodiversidade, já extremamente ameaçada pelo aquecimento do planeta. O volume de tráfego e comércio se expandiu muito nesse período, razão pela qual os efeitos da água de lastro só recentemente começaram a ser entendidos.
Entretanto, segundo o sensorex.com, estudos mostraram que a introdução de moluscos invasores nos EUA custa cerca de US$ 6 bilhões por ano.
Além disso, estudos realizados em vários países indicaram que muitas espécies de bactérias, plantas e animais podem sobreviver na água de lastro e sedimentos transportados em navios, mesmo depois de viagens de vários meses.
Alguns problemas provocados no Brasil
No Brasil temos ao menos dois casos emblemáticos. O mais prejudicial foi a introdução do mexilhão-dourado no lago Guaíba em 1998, provavelmente por um navio oriundo da Ásia. De lá para cá, o mexilhão-dourado contaminou toda a América do Sul.
Causa, igualmente, sérios prejuízos à Usina Itaipu Binacional que empreende um programa que tem reduzido progressivamente a quantidade de larvas de mexilhão-dourado no reservatório da usina. O molusco é responsável pelo entupimento de encanamentos em equipamentos da hidrelétrica e também causa desequilíbrios ambientais.
A incômoda presença já foi detectada no Pantanal, no rio São Francisco, e agora ameaça até mesmo a Amazônia.
Do mesmo modo, outro caso é o do coral-sol natural dos Oceanos Índico e Pacífico que, ao que parece, veio parar aqui incrustado em plataforma de petróleo. Hoje, segundo o Instituto de Biodiversidade Marinha, há registros do coral-sol na Ilha do Arvoredo, em Santa Catarina; em Guarapari, no Espírito Santo; em Arraial do Cabo e nas Ilhas Cagarras, no Rio de Janeiro; em diversas ilhas do litoral paulista. Entre elas Vitória, Alcatrazes e Búzios.
80 mil navios pelos oceanos
A Bimco, maior organização de associação direta do mundo para armadores, afretadores, corretores de navios e agentes, estima que em 2021 existiam 74.505 navios de carga nos mares do planeta.
Enquanto isso, o www.cruisemummy.co.uk, que produz estatísticas de navios de cruzeiro, informa que em 2022 há 323 navios embalando turistas mares afora.
E apesar da enormidade destes números, a tendência é aumentar ainda mais já que cerca de 90% do comercio mundial é feito através de navios.
Além disso, de acordo com estimativas da IMO, Organização Marítima Mundial, uma agência da ONU, os navios transportam entre três e cinco bilhões de toneladas de água de lastro globalmente a cada ano.
Já o www.shipsbusiness.com diz que pelo menos 7.000 espécies diferentes são transportadas em tanques de lastro de navios em todo o mundo. Portanto, a água de lastro não tratada, quando lançada em uma área litorânea, pode destruir o ecossistema local.
Mas, então, não há nada a fazer sobre o problema? Sim, há o…
Sistema de Gerenciamento de Água de Lastro
O objetivo é minimizar a transferência de organismos aquáticos nocivos não indígenas e patógenos de uma área para outra (porto de chegada) através do sistema de água de lastro do navio. As espécies marinhas invasoras são uma das quatro maiores ameaças aos oceanos do mundo.
Ao contrário de outras formas de poluição marinha, como derramamentos de óleo, onde ações de limpeza podem minimizar os impactos, as espécies marinhas invasoras são muitas vezes irreversíveis.
Cada embarcação deve ter um “Plano de Gerenciamento de Água de Lastro” específico. Este Plano dá orientação geral e requer informações adicionais do navio para levar em consideração os arranjos exclusivos.
Ou seja, existem formas de tratar a água de lastro com outros produtos que diminuem a possibilidade da bioinvasão quando bem feitas.
Outra maneira seria despejar a água de lastro que veio de determinado continente ainda em alto-mar, onde a grande maioria de invasores provavelmente morreria. Acontece que tudo isto custa caro. Ou seja, encarece ainda mais os fretes. Por isso, e por uma regulamentação frouxa grande parte dos navios ignoram as recomendações.
Primeiros sinais da introdução de uma espécie invasiva
‘Os cientistas reconheceram os primeiros sinais da introdução de uma espécie exótica após uma ocorrência em massa da alga fitoplâncton asiática Odontella (Biddulphia sinensis) no Mar do Norte em 1903. Mas foi somente na década de 1970 que a comunidade científica começou a analisar o problema em detalhes.
No final da década de 1980, o Canadá e a Austrália estavam entre os países com problemas específicos com espécies invasoras e levaram suas preocupações à atenção do Comitê de Proteção ao Meio Ambiente Marinho (MEPC) da IMO.’
‘A disseminação de espécies invasoras é hoje reconhecida como uma das maiores ameaças ao bem-estar ecológico e econômico do planeta.’
Os muitos problemas da indústria marítima mundial
Contudo, a água de lastro é apenas mais um dos problemas ainda à espera de solução provocados pela indústria marítima mundial. A começar pela brutal poluição atmosférica em razão da escolha do combustível de navios, o pior, e mais poluente, entre todos os meios de transporte.
Outro destaque negativo a água cinza de navios é mais uma ‘contribuição’ à poluição dos oceanos e é o efluente proveniente de chuveiros, máquinas de lavar utensílios, pias e banheiros em geral, além das cozinhas e ralos.
‘Navios descartam lixo no mar; é quase uma unanimidade’
A grande maioria dos navios, seja de cruzeiro, ou cargueiros, jogam lixo no mar por negligência, e mais uma vez, custos mais altos para armazená-los e descartá-los de maneira correta.
Enquanto perdurarem práticas como as das bandeiras de conveniência, e a ‘proteção’ ou negligência da IMO, os navios continuarão a ser essenciais a este mundo globalizado, porém, poluindo o ar, o mar, e até mesmo, os continentes.
Fonte: Mar Sem Fim.
Imagem: Ricardo Macía / China Dialogue Ocean.