Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos nesta quarta-feira (6) e a vitória do candidato republicano reacende as discussões sobre o clima e o meio ambiente. Conhecido por sua postura de flexibilização regulatória e apoio ao setor de combustíveis fósseis, Trump promete uma linha dura CONTRA restrições ambientais, o que preocupa especialistas e ambientalistas.
Como a maior economia do mundo e a segunda emissora de gases de efeito estufa, as decisões dos EUA terão impacto direto na luta global contra as mudanças climáticas.
“Trump tem uma péssima relação com a agenda do clima, e péssimas realizações. No documento de campanha, ele diz que um dos objetivos é abandonar essa agenda. Teremos um governo de um país superpoderoso batendo de frente com a agenda do clima”, aponta Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Retrocessos na 1ª gestão: 2017 a 2021
No seu primeiro mandato, Trump revogou mais de 100 regras ambientais, que impactaram (e seguem impactando) nas emissões de gases de efeito estufa, um dos principais responsáveis pelo aquecimento global.
Segundo Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, as emissões de gases de efeito estufa estavam caindo na maior parte dos oito anos do governo Obama e voltaram a crescer em três dos quatro primeiros anos do primeiro governo Trump.
Ludmila Rattis, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e do Woodwell Climate Research Center, lembra que um lobista do petróleo (David Bernhardt) derrubou as proteções de áreas com espécies ameaçadas e criou campos de exploração de petróleo em Utah. Áreas também foram abertas para mineração e extração de petróleo, atividades vedadas antes.
Trump também retirou os EUA do Acordo de Paris, pacto assinado pela comunidade internacional em 2015 para limitar o aquecimento global, alegando que as metas impostas aos norte-americanos eram muito altas. O país voltou em 2021, no governo Biden.
ENTENDA: O Acordo de Paris foi assinado em 2015, durante a COP21. Seu principal objetivo é manter o aquecimento global do planeta bem abaixo de 2°C até o final do século e buscar esforços para limitar esse aumento até 1.5°C. Quase todos os países do mundo são signatários do acordo, exceto alguns poucos, como Irã, Líbia, Iêmen e Eritreia.
Em agosto de 2018, o departamento de transporte e a Agência de Proteção Ambiental dos EUA revisaram as metas para uso de combustível fóssil em automóveis estipuladas ainda na gestão Obama. A regra original estabelecia que os veículos teriam que rodar 22 km para cada litro de combustível consumido até 2025. Já a gestão Trump baixou a exigência para 14,5 km por litro até 2021. A decisão criou conflito legal com Estados como a Califórnia, que têm limites de emissão mais altos.
Trump também editou uma medida executiva em que autorizava o aumento em 30% da extração de madeira em parques nacionais, justificando que a medida seria uma forma de reduzir o risco de incêndio ao retirar madeira das florestas, um argumento contestado por ambientalistas.
Ainda na gestão Trump, a Agência de Proteção Ambiental abriu o menor número de processos criminais contra empresas que tenham descumprido a legislação de meio ambiente do país em 30 anos.
O que esperar para os próximos anos
Trump disse que irá retirar novamente os Estados Unidos do Acordo de Paris e apoiará o aumento da produção de energia nuclear. Ele também pretende revogar as determinações de Joe Biden sobre veículos elétricos e outras políticas destinadas a reduzir as emissões de automóveis. O republicano defende, ainda, a liberação rápida de todos os projetos de geração de energia, incluindo os combustíveis fósseis.
“O plano do Trump é aumentar emissões, é pisar no acelerador dos combustíveis fósseis. Ele vai investir no problema. Inclusive, tem alguns coordenadores de campanha dizendo que uma parte dos recursos internacionais dos EUA poderá ser usado para fomentar, ajudar grupos de negacionismo climático, contra a agenda climática. Não será apenas uma omissão dos EUA sobre o que poderiam fazer, é pior. É jogar contra a agenda de forma ativa”, alerta Astrini.
Adriana Ramos, pesquisadora do Instituto Socioambiental (ISA), acredita que a eleição de Trump vai significar um atraso de quatro anos na agenda climática. “Um país como os Estados Unidos presidido por um negacionista climático coloca em risco todos os esforços para o enfrentamento à emergência climática em um momento crucial para o planeta”.
Fundo Amazônia
No Brasil, o Fundo Amazônia pode ser prejudicado com a eleição de Trump.
“Os EUA têm uma promessa de 500 milhões de dólares de envio de recursos. Eles enviaram uns 10% até agora e isso é algo que vai ser afetado. A COP do Brasil [que ocorre em 2025, em Belém] também pode ser afetada, com o Trump na cadeira da presidência. Pode ser que os EUA tenham saído do Acordo de Paris, mas a eleição dele traz consequências”, ressalta Astrini.
De modo geral, a eleição de Trump pode influenciar:
Nas metas de financiamento
Nas NDCs (metas climáticas dos países)
Nos números de emissões
“Os EUA fazem um checklist completo em todos os itens quando estamos falando em transição para fora do uso de combustíveis fósseis: são os que mais poluíram, os que tem mais dinheiro, os que mais exploram combustíveis fósseis e estão no topo do financiamento. Eles são extremamente necessários nas duas principais agendas de clima”, finaliza o secretário-executivo do Observatório do Clima.
Fonte: g1.
Foto: Imagem: Reuters.
Be First to Comment