Brasil anuncia adesão à Opep+ e se aproxima de países produtores de petróleo; organizações ambientais veem retrocesso

O governo brasileiro anunciou nesta terça-feira (18) que vai aceitar o convite da Organização dos Países Produtores Exportadores de Petróleo (Opep) e ingressar no grupo de aliados do cartel, conhecido como “Opep+”.

“É apenas uma carta e fórum de discussão de estratégias dos países produtores de petróleo. Não devemos nos envergonhar de sermos produtores de petróleo”, declarou o ministro Alexandre Silveira. O governo deu sinal verde ainda para os processos de adesão à Agência Internacional de Energia (IEA) e à Agência Internacional de Energia Renovável (Irena).

Segundo o Ministério de Minas e Energia, a participação nesses fóruns também está alinhada ao Plano Nacional de Energia 2050, que prevê o desenvolvimento sustentável das energias renováveis em paralelo à exploração dos recursos fósseis. “O Brasil utilizará a presença nesses organismos para impulsionar práticas sustentáveis, tecnologias de baixo carbono e mecanismos de financiamento da transição energética, em consonância com a descarbonização, estabelecida na segunda versão da NDC brasileira”, aponta a nota publicada.

“O Brasil é uma potência energética, e sua diversidade deve servir de exemplo para pautar discussões no cenário mundial. A transição e a segurança energética são caminhos complementares. Essa decisão permite que o Brasil desempenhe um papel ativo em um momento de grandes transformações no setor de energia, fortalecendo seu diálogo com organizações internacionais que lideram o debate global sobre temas fundamentais”, afirmou o ministro Silveira.

Organizações ambientalistas reagiram ao anúncio, criticando a postura do governo brasileiro em se alinhar aos maiores produtores de petróleo no mundo.

O WWF-Brasil publicou em nota que o movimento “é extremamente preocupante na medida em que reforça os diversos sinais dados nos últimos meses de que o governo aposta em um modelo obsoleto de desenvolvimento, baseado na queima de combustíveis fósseis”.

“Fato é que poucos países no mundo estão tão bem posicionados para a transição para energias renováveis. Com a decisão de ‘explorar petróleo até a última gota’, como declarado pelo ministro no ano passado, o país está abrindo mão de ser um líder da nova economia descarbonizada que o colapso climático exige”, complementou a organização.

O Observatório do Clima, que lidera estudos que acompanham as emissões do Brasil, entre outros temas da agenda ambiental, afirmou que a adesão do Brasil à Opep é um sinal de “retrocesso”.

“Usar recursos de plataformas já em operação para financiar a transição energética faz todo sentido. Intensificar e protelar o uso de [combustíveis] fósseis para uma demanda que precisa urgentemente cair é como fazer uma guerra alegando buscar a paz”, analisou Suely Araujo, coordenadora de políticas públicas da organização e ex-presidente do Ibama.

O Greenpeace Brasil ressaltou uma possível “mancha” na reputação do Brasil como país-sede da Cúpula do Clima das Nações Unidas deste ano.

“Em ano de COP30 no Brasil, de 10 anos do Acordo de Paris e em meio a mais uma onda brutal de calor e recordes sucessivos nas altas de temperatura, o Brasil vai na contramão ao buscar integrar a Opep+, um grupo que funciona como um cartel do petróleo e que trabalha para sustentar preços lucrativos por meio do controle da oferta. Isso coloca o papel de liderança climática do Brasil em risco”, avalia Camila Jardim, especialista em política internacional do grupo.

Fontes: Um Só Planeta, Veja, Brasil de Fato, UOL.

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