A produção mundial de vinho caiu 10% em 2023, a maior queda em mais de seis décadas, devido a mudanças climáticas “extremas”, informou nesta quinta-feira o órgão que monitora o comércio. Segundo a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) — que abrange quase 50 países produtores de vinho —, “condições ambientais extremas”, incluindo secas, incêndios e outros problemas climáticos, foram os principais culpados pela queda drástica.
Austrália e Itália sofreram mais, com quedas de 26% e 23%. A Espanha perdeu mais de um quinto da sua produção. As colheitas no Chile e na África do Sul caíram mais de 10%. A OIV disse que a colheita global de uvas foi a pior desde 1961, e pior ainda do que as estimativas iniciais de novembro. Outra má notícia para os produtores de vinho é que os clientes beberam 3% menos vinho em 2023, afirmou o órgão intergovernamental com sede em França.
Nos países da União Europeia, por exemplo, a produção deve cair 7% este ano, segundo a OIV. A Grécia foi o país mais afetado, com uma queda de 45% na colheita, agravado por doenças da uva associadas à seca. Somente a França teve estabilidade, apesar do sul e do sudoeste do país terem sofrido com o míldio e com a escassez de chuva.
O diretor John Barker destacou que os números são resultado de “seca, calor extremo e incêndios, bem como fortes chuvas que causam inundações e doenças fúngicas nas principais regiões produtoras de vinho dos hemisférios norte e sul”. Embora tenha dito que os problemas climáticos não são os únicos responsáveis pela queda drástica, “o desafio mais importante que o setor enfrenta são as alterações climáticas.
“Sabemos que a videira, sendo uma planta de longa vida cultivada em zonas muitas vezes vulneráveis, é fortemente afetada pelas alterações climáticas”, acrescentou.
Por outro lado, os produtores acreditam que a baixa produção pode trazer um certo equilíbrio ao mercado mundial de vinhos, por conta do contexto econômico e geopolítico adverso, somado a alta da inflação, o que provavelmente causará a diminuição do consumo mundial de vinho. Além disso, houve alta dos estoques em muitas regiões, pressionando os preços para baixo e ampliando as dificuldades de diversos produtores.
Menos vinho sendo bebido
O consumo de vinho no ano passado atingiu o nível mais baixo desde 1996, confirmando uma queda nos últimos cinco anos, de acordo com os números da pesquisa. A tendência deve-se em parte aos aumentos de preços causados pela inflação e a uma queda acentuada no consumo de vinho na China – uma queda de um quarto – devido ao seu abrandamento econômico.
Portugueses, franceses e italianos continuam a ser os maiores consumidores de vinho per capita do mundo. Barker disse que a diminuição subjacente no consumo está sendo “impulsionada por mudanças demográficas e de estilo de vida […] mas dadas as influências muito complicadas sobre a procura global neste momento”, é difícil saber se a queda irá continuar.
“O que está claro é que a inflação é o fator dominante que afeta a procura em 2023”, disse ele.
As terras destinadas ao cultivo de uvas para alimentação ou vinho caíram pelo terceiro ano consecutivo para 7,2 milhões de hectares. Mas a Índia tornou-se um dos 10 maiores produtores globais de uva pela primeira vez, com um aumento de três por cento no tamanho dos seus vinhedos.
A França, no entanto, tem podado ligeiramente as suas vinhas, com o governo pagando aos produtores de vinho para arrancarem as vinhas ou destilarem as suas uvas. O colapso da colheita italiana para o seu nível mais baixo desde 1950 não significa necessariamente que haverá uma contração semelhante naquele país, disse Barker.
Entre inundações e granizo, e tempo úmido que provoca míldio no centro e sul do país, a queda esteve “claramente ligada às condições meteorológicas”, disse.
Fontes: O Globo, Revista Adega.
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