O papel de absorção de carbono desempenhado pelos manguezais é conhecido, os colocando como grandes aliados para reverter os efeitos das mudanças climáticas gerada pelas atividades humanas. Contudo, além de sua função biológica, estes ecossistemas têm um papel importante para comunidades que usufruem dos chamados “serviços ecossistêmicos” – alimento e atividade econômica com a pesca, por exemplo.
Detalhar e evidenciar o papel social dos manguezais foi foco da pesquisa “Fluxo de serviços ecossistêmicos de manguezais para comunidades costeiras na Amazônia brasileira”, publicado pela Frontiers in Environmental Science, de coautoria de Margaret Awuor Owuor e Angelo Bernardino, da National Geographic Society.
Segundo os pesquisadores, o Brasil tem a segunda maior área de manguezais do mundo, abrigando, só em território amazônico, 700 mil hectares destes ecossistemas.
A iniciativa da National Geographic entrevistou mais de 100 famílias para compreender como as pessoas utilizam e valorizam os manguezais, suas disposições em dedicar tempo para a conservação dos mesmos, além da importância econômica deste ecossistema. Foram 13 comunidades consultadas ao longo da costa amazônica norte, no estado do Pará.
“Está bem documentado que os manguezais e as zonas úmidas costeiras são sumidouros de carbono significativos. No entanto, os manguezais também proporcionam benefícios diretos e indiretos às comunidades locais, tais como a pesca e a regulação climática, que não são fáceis de quantificar, ainda mais em regiões do mundo com escassez de dados”, diz Awuor Owuor, autora principal do estudo.
Segundo informações reveladas pelo estudo de campo, há “um forte acordo” entre os moradores de que existe um alto fluxo de serviços ecossistêmicos para os manguezais, incluindo pesca (95%), viveiros e criadouros (94%), regulagem do clima (89%), conservação da biodiversidade (96%) e proteção contra tempestades (87%).
A maioria dos entrevistados que participaram no estudo eram homens (60%) com uma forte dependência da pesca e moradores das aldeias há 37 anos, em média.
A pesca era a principal fonte de rendimento para cerca de 67% dos entrevistados, seguida pela agricultura, com 28%. Contudo, quando se trata de ocupação principal, a maioria (92%) aponta a pesca, sendo a maricultura nos mangues também importante para cerca de 61%.
Os manguezais desempenham ainda papel importante na purificação de água e outros serviços associados à resiliência costeira, como a proteção contra a erosão, controle de inundações e do fluxo de sedimentos.
Além da importância para a flora e a estabilidade do terreno, os manguezais aparecem como guardiões da biodiversidade. Segundo os pesquisadores, os membros da comunidade local apontam um fluxo muito elevado nos manguezais como ponto de viveiros e reprodução de peixes e outros animais, como caranguejos, pássaros e macacos.
Na visão dos pesquisadores, uma visão mais ampla sobre os ecossistemas costeiros pode fortalecer planos rumo ao netzero. “Para alcançar melhores resultados, uma estratégia para ligar a atual proteção [legal] dos manguezais às paisagens costeiras próximas (rios, terras agrícolas e outros tipos de florestas) provavelmente melhoraria as metas nacionais [do Brasil] determinadas para reduzir as emissões de carbono e melhoraria os benefícios para as comunidades costeiras, uma vez que estas paisagens [adicionais] forneceriam madeira que caso contrário, seria extraída de manguezais”, afirmam os autores do estudo.
Além de impulsionar uma sinergia ecológica, interligando reservas em terra e no mar, uma maior atenção a estas riquezas naturais e seus serviços ecossistêmicos é necessária para garantir a sua preservação, argumenta a pesquisa. “Embora a legislação brasileira reconheça os manguezais como áreas de proteção permanente, não é incomum identificar áreas de manguezais convertidas para aquicultura, urbanização e desmatamento”, destacam os pesquisadores.
Fonte: Um Só Planeta.
Foto: Jorge Alvarenga/National Geographic.