Incêndio em um rio mudou as leis nos EUA

Em 22 de junho de 1969, um impressionante incêndio ocorreu em Cleveland, no estado de Ohio, EUA, chamando a atenção do país para uma questão ambiental que, até então, havia sido pouco explorada pela imprensa. O rio Cuyahoga pegou fogo, resultando em grandes labaredas devido à intensa poluição proveniente do sistema de esgoto e descarte da região.

Apesar de controlado rapidamente pelos bombeiros antes de ser registrado em foto, o destaque dado pela revista TIME no dia seguinte, com uma imagem ilustrativa, chocou a população local. A foto na capa, capturada 17 anos antes, em 1952, mostrava o mesmo rio em condições semelhantes de incêndio.

Não importava que a imagem, na verdade, fosse de 1952; o artigo chocou a nação, e o rio incandescente se tornou assunto nacional e símbolo do desespero do Cinturão da Ferrugem. James Earl Jones chegou a narrar um documentário sobre ele.

Agora em junho faz meio século que o Cuyahoga se incendiou pela última vez. E a revolta com o desastre resultou na criação da Lei da Água Limpa três anos depois, impondo padrões de pureza e penalidades para indústrias poluentes.

Além disso, levou à formação de agências estaduais e federais para fiscalizar a aplicação da lei, prometendo avanços na proteção ambiental nas décadas seguintes.

Graças a essas salvaguardas e à formação de um núcleo de saneamento regional, a face pública de Cleveland está se redefinindo, a ponto de fazer o turismo crescer. Em 2017, o Destination Cleveland, órgão que cuida da atividade, anunciou um aumento de quase 550 mil visitantes por ano desde 2009.

Segundo a publicação, o registro mostrou o perigo que a poluição poderia causar na região — tanto pelos efeitos diretos, que impossibilitavam o consumo da água e o equilíbrio do bioma marinho, quanto pela possibilidade de novos incêndios, que acometiam a cidade com um cheiro insuportável. Dessa maneira, algo precisava ser feito.

Após o ocorrido, as autoridades locais divulgaram uma estimativa que causou grande impacto nos moradores próximos ao rio Cuyahoga. De acordo com o jornal Zero Hora, o rio pegou fogo em treze ocasiões entre 1868 e 1969. Esse dado provocou revolta popular, gerando pressão para a criação de mecanismos de despoluição e proteção dos recursos naturais.

Os primeiros indícios de recuperação começaram a surgir na segunda metade da década de 1980, chegando a ser considerado “à prova de fogo” em 1989, mesmo sem a limpeza completa, conforme relatado pelo New York Times na época.

Em março de 2019, a Ohia EPA realizou um levantamento ainda mais animador; o status de tóxico foi deixado de lado, reconhecendo que a vida marinha no local já condiz com o período anterior às alterações do homem.

E há também o exemplo de como um rio que já foi tão tóxico, a ponto de borbulhar e destilar fedor feito um caldeirão, hoje produz vida marinha comestível: a Ohio EPA anunciou em março que os peixes do Cuyahoga, incluindo o peixe-gato e a carpa, são seguros para consumo.

— A população local leva o rio muito a sério, e é por isso que esse aniversário é tão importante para a cidade; afinal, é uma história de sucesso — afirma David Stradling, um dos autores de Where the River Burned: Carl Stokes and the Struggle to Save Cleveland.

Para comemorar a recuperação fluvial, centenas de organizações ambientais e de arte se uniram para a Cuyahoga50, uma série de eventos, exposições, espetáculos e conferências que serão realizados este ano com o objetivo de apresentar o rio aos visitantes ou refamiliarizá-los com ele. Para completar, a organização nacional de defesa e conservação American Rivers nomeou o Cuyahoga como Rio do Ano em abril.

Por fim, as margens do trecho em Cleveland se tornaram um símbolo de progresso para a cidade, visto que, além de instalar diversos locais de lazer ao redor do rio, hoje consegue estimular o turismo da cidade com aluguel de barcos, caiaques e serviço de táxi aquático, contando com restaurantes e bares com vistas para as limpas águas do Cuyahoga.

Fontes: Aventuras na História, Instituto de Agua Sustentável, GZH.

Foto: Michael Schwartz Library / Divulgação.