O clima mais quente está fazendo com que insetos transmissores de doenças infecciosas se desloquem para novas latitudes e regiões geográficas da África. É o caso de mosquitos do gênero Anopheles, responsáveis pela transmissão da malária, segundo um novo estudo conduzido por cientistas do Centro Médico da Universidade Georgetown, nos Estados Unidos.
Do período pré-industrial até os dias atuais, a temperatura média do planeta já aumentou 1,2° C e a perspectiva é ficar mais quente. Na recente análise, publicada na revista Biology Letters nesta quarta-feira (15), os pesquisadores indicam que o aumento da temperatura fez com que os mosquitos na África Subsaariana se deslocassem, anualmente, 6,5 metros em direção a áreas mais elevadas e 4,7 quilômetros para o sul da linha do Equador.
À medida que uma região esquenta, os mosquitos buscam outros lugares com temperaturas propícias para que possam viver e se reproduzir. Normalmente, os locais mais elevados e afastados da linha do Equador são mais frios.
A movimentação de espécies já ocorre há algum tempo. Em 2011, os especialistas estimaram que espécimes terrestres estavam se movendo a uma taxa de 1,1 metro por ano, e para latitudes polares em 1,7 quilômetro por ano. No entanto, a velocidade em que os mosquitos estão se deslocando é muito maior.
Novos locais
Para chegar a essa conclusão, a equipe analisou um conjunto de dados compilado por diversos entomologistas entre 1898 e 2016 para rastrear os limites de alcance do mosquito Anopheles. A pesquisa focou principalmente nos mosquitos da malária, tanto por causa de sua capacidade de espalhar a doença quanto pelo conjunto de dados históricos únicos que rastreiam seus movimentos.
“Se os mosquitos estão se espalhando nessas áreas pela primeira vez, isso pode ajudar a explicar algumas mudanças recentes na transmissão da malária que, de outra forma, seriam difíceis de rastrear até o clima”, pontua Colin Carlson, professor assistente de pesquisa no Centro de Ciência e Segurança da Saúde Global no Centro Médico da Universidade de Georgetown, em comunicado.
O estudo adverte que, nos últimos anos, além da malária, outras doenças transmitidas por mosquitos, como dengue e zika, também se expandiram para novas latitudes e elevações. As movimentações tendem a continuar no futuro, uma vez que os insetos vão seguindo os limites térmicos de transmissão estabelecidos pela necessidade de adaptar a temperatura corporal ao ambiente.
“Temos a tendência de supor que essas mudanças estão acontecendo ao nosso redor, mas a base de evidências é bastante limitada”, reconhece Carlson. Mais pesquisas são necessárias para que os cientistas tenham uma noção do que está acontecendo em diferentes regiões ou com diferentes doenças para obter o quadro mais abrangente possível.
“Sabemos tão pouco sobre como a mudança climática está afetando a biodiversidade de invertebrados. A saúde pública está nos dando uma rara oportunidade de observar como alguns insetos podem estar prosperando em um clima em mudança, mesmo que seja uma má notícia para os humanos”, informa.
Fonte: Revista Galileu.
Foto: Reprodução/Pixabay.