Depois da eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, especialistas em clima e líderes políticos e empresariais manifestaram preoupação com um possível retrocesso na agenda climática e ambiental do país, e até mesmo uma possível segunda saída do Acordo de Paris, conforme prometido por Trump em campanha. No entanto, um relatório divulgado nesta quinta (14) pela Net Zero Industrial Policy Lab afirma que, se o republicano seguir por este caminho, cerca de US$ 80 bilhões em investimentos podem deixar os EUA em direção à outras partes do mundo compromissadas com a geração de energia limpa.
O estudo também chegou a conclusão de que os Estados Unidos podem perder até US$ 50 bilhões adicionais em exportações, cedendo terreno à China e a outras potências emergentes na corrida para construir carros elétricos, baterias, energia solar e eólica para suprir a demanda mundial. “A transição energética é inevitável e a prosperidade futura dos países depende de fazerem parte da cadeia de abastecimento de energia limpa. Se sairmos da competição, será muito difícil voltar a entrar”, afirmou Bentley Allan, especialista em política ambiental e política da Universidade Johns Hopkins, coautor do relatório, ao The Guardian.
Sob o governo do democrata Joe Biden, os EUA promulgaram a “Lei dos Chips”, a Lei Bipartidária das Infraestruturas e a Lei de Redução da Inflação (IRA), todas voltadas para o enfrentamento da crise climática ao mesmo tempo em que reforçaramm a indústria norte-americana e criaram empregos verdes.
Só a IRA, voltada para incentivos a produção de energia limpa, criou uma estimativa de 300 mil novos postos de trabalho, muitos deles em estados governados por republicanos. Trump, no entanto, já classificou a legislação como um desperdício e prometeu eliminá-la. Caso o novo presidente de fato siga adiante, projetos de produção de turbinas eólicas e painéis solares seriam cancelados, deixando as empresas norte-americanas dependentes de fornecedores estrangeiros para terem acesso a componentes. “Sem estes investimentos e créditos fiscais, a indústria dos EUA será prejudicada no momento em que avança, cedendo terreno a outros”, afirma o relatório.
Mas especialistas apontam que a agenda do novo presidente, apesar de ser capaz de retrocessos, não deverá travar completamente o dinamismo da energia limpa nos EUA. Isso porque as energias renováveis já são economicamente atrativas e devem continuar a crescer, embora talvez de forma mais lenta caso os planos trumpistas se concretizem. A energia solar, por exemplo, cujo custo caiu 90% na última década, foi adicionada à rede norte-americana no ano passado a uma taxa três vezes superior à capacidade de gás natural, um combustível fóssil.
“Veremos um grande esforço para aumentar o fornecimento de combustíveis fósseis por parte dos EUA, mas, de qualquer forma, a maior parte das perfurações está a todo vapor. Isso é bem diferente de gerar demanda, que geralmente se resume à fonte de energia mais barata, que é cada vez mais renovável. Se Donald Trump flexibilizar as regulamentações de licenciamento [de fósseis], isso poderá até levar à disponibilização de mais energia limpa”, disse Ely Sandler, especialista em finanças climáticas da Universidade de Harvard.
Outra sinalização que mostra a paraça das renováveis foi dada esta semana pelo CEO da petroleira ExxonMobil, Darren Woods, que defendeu em entrevista ao Wall Street Journal que Trump não deveria retirar o país do Acordo de Paris. A postura do executivo não reflete necessariamente uma preocupação ambiental, mas sim mercadológica: considerando previsões confiáveis, como da Agência Internacional de Energia, de que a venda de petróleo deve atingir seu pico nos próximos anos e iniciar um declínio, devido ao aumento de carros e máquinas pesadas movidas a energia limpa, corporações como a Exxon já investem pesadamente em se tornarem provedores de hidrogênio verde e captura de carbono, por exemplo.
No caso da Exxon, a empresa prometeu investir US$ 20 bilhões (R$ 114 bilhões) até 2027 nessas e em outras tecnologias semelhantes. “Não permitimos que agendas políticas conduzam as decisões de negócios e investimentos que tomamos”, afirmou Woods.
De acordo com a agência AFP e outras publicações da imprensa, autoridades americanas presentes esta semana na 29ª Conferência do Clima têm tentado tranquilizar seus colegas de outros países de que o presidente eleito não será capaz de deter a ação climática dos EUA. Ali Zaidi, conselheiro climático do presidente Joe Biden, citou os planos de triplicar a capacidade de energia nuclear até 2050 como um exemplo de projeto “bipartidário” que poderia sobreviver à gestão Trump 2.
Um só Planeta.
Foto: Pexels.
Be First to Comment